domingo, 28 de dezembro de 2014

Não me prendo

Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão. Tranquilidade e inconstância, pedra e coração. Sou abraços, sorrisos, ânimo, bom humor, sarcasmo, preguiça e sono. Música alta e silêncio. Serei o que tu quiseres, mas só quando eu quiser.
Clarice Lispector

terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Simão Botelho

Protagonista de "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, inicialmente é apresentado como um jovem de temperamento sanguinário e violento. Perturbador da ordem para defender a plebe com quem convive e agitador na faculdade, onde luta de forma brutal pelas ideias jacobinas, o seu carácter transforma-se repentinamente. É que conhecera e amara, durante os três meses em que esteve em Viseu, a vizinha Teresa. Ele com 17 anos, ela com 15, passam a viver desde então o amor romântico: um amor que redime os erros, que modifica as personalidades, que tem na pureza de intenções e na honestidade de princípios as suas principais virtudes. Aliás, são as virtudes que caracterizam os sentimentos de Simão, desde que experimenta este amor. Torna-se recatado, estudioso e até religioso, o que não o impede de sentir uma sede incontrolável de vingança, que resulta no assassinato do rival Baltasar Coutinho. Esse ato exemplifica a proximidade entre “o sentimento moral do crime” ou “o sentimento religioso do pecado” e a tentativa de consumação do amor. O modo como assume este crime, recusando-se a aceitar todas as tentativas de escamoteá-lo, feitas pelos amigos do seu pai, acaba de configurar o carácter passional do comportamento de Simão. Nem a possibilidade da forca e do degredo, nem as misérias sofridas no cárcere conseguem abater a firmeza, a dignidade, a obstinação que transformam Simão Botelho em símbolo heróico da resistência do indivíduo perante as vilezas da sociedade. Por outras palavras, estamos perante um típico herói ultra-romântico.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

La Bohème

"La Bohème" é uma ópera em quatro atos de Giacomo Puccini, com libreto de Luigi Illicae Giuseppe Giacosa, baseado no livro de Henri Murger, “Scènes de la vie de bohème”. Estreou no Teatro Regio de Turim a 1 de Fevereiro de 1896, sob a direcção de Arturo Toscanini.
A história passa-se em Paris, no início do século XIX, e o argumento gira em torno de um grupo de artistas em conflito e com falta de recursos financeiros.
Rodolfo é poeta e partilha um sótão em Paris com os seus amigos boémios: Marcello, um pintor, Schaunard, um músico, e Colline, um filósofo. Os quatro enganam o senhorio que vinha cobrar a renda em atraso e decidem ir comemorar ao Momus Café. Rodolfo permanece a escrever quando chega a frágil Mimi e os dois se apaixonam.
No Quartier Latin, Rodolfo aparece com Mimì no Momus Café e apresenta-a aos seus amigos. Marcello reencontra Musetta, com um novo companheiro e os dois reconciliam-se.
Uns tempos mais tarde, Mimì visita Marcello e, desesperada, conta-lhe que Rodolfo a abandonou cego de ciúmes. À chegada de Rodolfo, Mimì esconde-se e percebe pela conversa dos dois amigos que o verdadeiro motivo do abandono é a sua saúde. Marcello e Musetta também se separam.
De regresso ao sótão, Musetta e Mimì, já muito fraca, chegam para que esta volte a ver, uma vez mais, o seu amado Rodolfo.
Numa última tentativa de salvar Mimì, Rodolfo corre para a cama a chorar e a chamar pelo seu nome.

domingo, 21 de dezembro de 2014

Eliminação da Discriminação Racial

A 21 de dezembro de 1965, na Assembleia Geral das Nações Unidas é adotada, pela Resolução 2106 A (XX), a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial. Nos termos desta Convenção, os Estados Partes empenham-se em não cometer um ato ou adotar uma prática de discriminação racial contra indivíduos, grupos de pessoas ou instituições e a assegurar que as autoridades públicas e as instituições atuem da mesma maneira; não patrocinar, defender ou sustentar a discriminação racial com origem em pessoas ou em organizações; rever as políticas governamentais, nacionais e locais e alterar ou a revogar leis e regulamentos que constituem ou perpetuem a discriminação racial; proibir e pôr termo à discriminação racial por pessoas, grupos e organizações; e fomentar organizações e movimentos integracionistas ou multiraciais e outros meios de eliminar as barreiras entre raças, bem como desencorajar tudo aquilo que puder tender a reforçar a divisão racial.

sábado, 20 de dezembro de 2014

Tristeza

Uma história triste agrada sempre. No seu sentido mais profundo, a vida é bela e alegre. Todos nós tivemos já a experiência disso milhares de vezes. Provas sobre provas de que não há primavera sem flores, nem outono sem frutos. Mas, apegados como estamos à aparência de tudo, esquecemos a voz do profundo, e ouvimos deliciados o som da superfície. Temos o vício da tristeza.
Miguel Torga

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Livre ...

 A minha infância pode parecer assustadora, mas era bela ... Passei fome ...Passei frio ... Mas era livre ... Livre de não me levantar ... Livre de não me deitar ... Livre de me embebedar ... De sonhar ... De esperar.
Edith Piaf

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Lua Adversa


Tenho fases, como a lua, 
Fases de andar escondida, 
fases de vir para a rua... 
Perdição da minha vida! 
Perdição da vida minha! 
Tenho fases de ser tua, 
tenho outras de ser sozinha. 

Fases que vão e que vêm, 
no secreto calendário 
que um astrólogo arbitrário 
inventou para meu uso. 

E roda a melancolia 
seu interminável fuso! 

Não me encontro com ninguém 
(tenho fases, como a lua...). 
No dia de alguém ser meu 
não é dia de eu ser sua... 
E, quando chega esse dia, 
o outro desapareceu...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Emma Bovary

A figura da mulher insatisfeita do século XIX é representada por ela em muitos aspetos e a crítica social na obra é imensa. Uma mulher sonhadora que conheceu o mundo através dos livros e que se cansa da vida de casada com um médico entediante. A personagem é um poço de tédio. Apesar de todas as tentativas frustradas do marido de agradar a esposa, Emma não se satisfaz facilmente e nem os amantes lhe são suficientes. Essa foi à obra que inaugurou o Realismo na Literatura, que serviu de inspiração para tantos outros autores e que até hoje gera discussões com a sua tão insaciável personagem principal.

domingo, 14 de dezembro de 2014

O Direito à Literatura

A literatura corresponde a uma necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade, porque pelo facto de dar forma aos sentimentos e à visão do mundo ela organiza-nos, liberta-nos do caos e portanto humaniza-nos. Negar a fruição da literatura é mutilar a nossa humanidade.
António Candido

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Protocolo de Quioto

A 11 de dezembro de 1997, é assinado o Protocolo de Quioto, tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que agravam o efeito estufa, com o consequente aquecimento global. Se o Protocolo de Quioto for implementado com sucesso, estima-se que a temperatura global reduza entre 1,4°C e 5,8 °C até 2100.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Sim, é possível

É possível (...) que não se tenha visto, conhecido e dito nada de real e importante? É possível que se tenha tido milénios para olhar, refletir e anotar e que se tenha deixado passar os milénios como uma pausa escolar, durante a qual se come fatias de pão com manteiga e uma maçã? 

Sim, é possível. 

É possível que, apesar das investigações e dos progressos, apesar da cultura, da religião e da filosofia, se tenha ficado na superfície da vida? É possível que até se tenha coberto essa superfície - que, apesar de tudo, seria qualquer coisa - com um pano incrivelmente aborrecido, de tal modo que se assemelhe aos móveis da sala durante as férias de verão? 

Sim, é possível.

É possível que toda a História Universal tenha sido mal-entendida? É possível que o passado seja falso, precisamente porque sempre se falou das suas multidões, como se dissertasse sobre uma aglomeração de pessoas, em vez de falar de uma única, em torno da qual elas estavam, porque se tratava de um desconhecido que morreu? 

Sim, é possível.

É possível que se tenha julgado ser preciso recuperar o que aconteceu antes de se ter nascido? É possível que se tivesse de lembrar a cada um que ele, de facto é proveniente de todos os antecessores, tendo ele disso conhecimento e não devendo dar ouvidos a outros que soubessem outras coisas? 

Sim, é possível. 


É possível que todas estas pessoas conheçam em pormenor um passado que nunca houve? É possível que todas as realidades nada sejam para elas; que a sua vida decorra, desligada de tudo, como um relógio numa sala vazia? 

Sim, é possível.

É possível que nada se saiba das raparigas que, no entanto, vivem? É possível que se diga «as mulheres», «as crianças», «os rapazes» e não se faça a mínima ideia (apesar de toda a cultura não se faça a mínima ideia) de que há muito que estas palavras não têm plural, mas apenas inúmeros singulares? 

Sim, é possível.

É possível que haja gente que diga «Deus» e julgue que se trate de algo comum a todos? - E veja-se apenas dois rapazinhos de escola: um compra um canivete, e o seu vizinho compra outro tal qual no mesmo dia. E uma semana depois mostram um ao outro os dois canivetes, e acontece que eles só muito de longe se parecem - tão diferentemente evoluíram em mãos diferentes. (Ora, diz a mãe de um deles a esse respeito: vocês têm sempre por força de desgastar logo tudo!). Ah, pois: é possível acreditar que se possa ter um Deus sem se recorrer a Ele? 

Sim, é possível.

Porém, se tudo isto é possível, se tem mesmo só uma aparência de possibilidade - então, por tudo o que há no mundo, é preciso que aconteça alguma coisa. O primeiro indivíduo, o que teve estes pensamentos inquietantes, deve começar a fazer alguma coisa do que se perdeu; mesmo que seja um qualquer, certamente o menos indicado: mais nenhum há que o possa fazer. 

Rainer Maria Rilke, in As Anotações de Malte Lauridis Brigge



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Espelhos no espaço

O jornal Pravda, de 28 de novembro de 1983, anuncia, como ideia para o futuro, a colocação de enormes espelhos em órbita sobre o Oceano Ártico, destinados a refletir luz solar sobre as cidades setentrionais soviéticas, durante a longa noite polar.

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

A Fuga

A 27 de novembro de 1807, a família real portuguesa, acompanhada da respetiva corte, embarca para o Brasil, por ocasião das invasões francesas. A frota, comandada pelo vice-almirante Manuel da Cunha Souto Maior, far-se-á ao mar a 29 de novembro, um dia antes da chegada a Lisboa do General francês Junot à frente de um exército com cerca de 26 mil homens. Sem condições militares para enfrentar os franceses, o príncipe regente de Portugal, D. João, resolveu transferir a corte portuguesa para sua mais importante colónia, o Brasil. Contou, neste empreendimento, com a ajuda dos aliados ingleses.

Nos catorze navios, além da família real, viajaram centenas de funcionários, criados, assessores e pessoas ligadas à corte portuguesa. Levaram também muito dinheiro, obras de arte, documentos, livros, bens pessoais e outros objetos de valor.

Após uma forte tempestade, alguns navios foram parar a S. Salvador e outros à cidade do Rio de Janeiro e é aqui que se instala a corte portuguesa. Muitos moradores, sob ordem de D. João, foram despejados para que os imóveis fossem usados pelos funcionários do governo. Este facto gerou, num primeiro momento, muita insatisfação e transtorno na população da capital brasileira.

No ano de 1818, a mãe de D. João, D. Maria I, faleceu e D. João tornou-se rei. Passou a ser chamado de D. João VI, rei do Reino Unido a Portugal e Algarves.


terça-feira, 25 de novembro de 2014

Eusebiozinho


Personagem de "Os Maias" de Eça de Queirós, é o primogénito de uma das Silveiras, "senhoras ricas da Quinta da Lagoaça" na região do Douro.  Eusebiozinho era também conhecido por Silveirinha, filho da viúva D. Eugénia e irmão da Teresinha.  Aparece na obra como representante da educação tradicional e retrógrada portuguesa.

Eusebiozinho era, em criança, um "menino molengão e tristonho", de "perninhas flácidas", com "as mãozinhas pendentes e os olhos mortiços". Amigo de infância de Carlos, com quem brincava em Santa Olávia, levava, continuamente, pancada daquele.
Habituado a memorizar e com "um edificante amor por alfarrábios e por todas as coisas do saber", cresceu sem motivações, casou-se, mas enviuvou cedo. Mais tarde, para se distrair, procurava bordéis ou aventureiras de ocasião, parecendo "mais fúnebre, mais tísico".
O diminutivo do nome é irónico e contrasta com a personagem Carlos que, desde criança, se revela saudável e cheio de vida. Com Eusebiozinho, Eça de Queirós critica e ridiculariza a educação tradicional portuguesa que não prepara para a vida. Mesmo em adulto, esta personagem é um falhado medíocre, de triste figura e com artísico.


domingo, 23 de novembro de 2014

O Poema


Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne,
sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.
Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
os rios, a grande paz exterior das coisas,
as folhas dormindo o silêncio,
as sementes à beira do vento,
- a hora teatral da posse.
E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.
E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as órbitas, a face amorfa das paredes,
a miséria dos minutos,
a força sustida das coisas,
a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.
- E o poema faz-se contra o tempo e a carne.
Herberto Helder


sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O Livro sobre Nada - Manoel de Barros


Com pedaços de mim eu monto um ser atónito.
Tudo que não invento é falso.
Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira.
Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou.
É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez.
Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas se não desejo contar nada, faço poesia.
Melhor jeito que achei para me conhecer foi fazendo o contrário.
A inércia é o meu ato principal.
Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que são inventadas.
O artista é um erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito.
A terapia literária consiste em desarrumar a linguagem a ponto que ela expresse nossos mais fundos desejos.
Quero a palavra que sirva na boca dos passarinhos.
Por pudor sou impuro.
Não preciso do fim para chegar.
De tudo haveria de ficar para nós um sentimento longínquo de coisa esquecida na terra – Como um lápis numa península.
Do lugar onde estou já fui embora.

domingo, 16 de novembro de 2014

Sete-Sóis

Baltasar Mateus , com alcunha hereditária de Sete-Sóis, é abandonado pelo exército durante a Guerra da Sucessão Espanhola por ter ficado inválido devido à perda da sua mão esquerda, representando a crítica da desumanidade na guerra. Deixado na miséria, consegue chegar a Lisboa, onde conhece, nesse mesmo dia, Blimunda e o padre Bartolomeu, num auto de fé no Rossio. Contava 26 anos. Imediatamente encantado pelos olhos de Blimunda no primeiro olhar, partilha, desde esse momento até morrer, a vida e os sonhos com ela. O padre Bartolomeu fá-lo participante do sonho de voar, projeto que será prosseguido na sua responsabilidade após o desaparecimento deste.
Torna-se açougueiro em Lisboa, uma vez que o gancho que usa para substituir a mão lhe facilita o trabalho  e, posteriormente, integra-se como boieiro nas legiões de operários nas obras do convento de Mafra. Porém, a sua principal ocupação é a construção da passarola.

Esta personagem revela-se gradualmente o herói do romance. Pois, em primeiro, por ser o representante do povo oprimido, o seu percurso torna-se o foco do narrador, abatendo do primeiro plano as personagens do grupo de poder. Em segundo, a sua relação com Blimunda, cujos poderes são considerados heréticos, entra em conflito com os valores da sociedade vigente, por não serem casados oficialmente. Em terceiro, pela amizade e partilha de ideias e sonhos com o padre Bartolomeu, que o divinizou ao compará-lo com Deus, por achar que este também é maneta da mão esquerda. Em quarto, pela a influência dessa amizade, Baltasar adquire o conhecimento de outras verdades, acerca do questionamento de dogmas religiosos e, principalmente, sobre a consciência do papel do homem no mundo, esta que será obtida quando Baltasar reconhecer e assumir o seu próprio valor. E por último, porque Baltasar paga com a sua própria vida a perseguição do sonho, o que, consequentemente, o faz transcender a imagem do povo oprimido e espezinhado de que faz parte e que representa. Assim, não é um herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem: um homem simples, elementar, fiel, terno e maneta, que reage perante a vida com a resignação típica dos humildes tanto de coração como de condição. Aceita apenas o que a vida lhe oferece, sem medo do trabalho ou da morte.

sábado, 15 de novembro de 2014

D. Maria II

A 15 de novembro de 1853, morre, em Lisboa, a Rainha D. Maria II. Teve uma infância despreocupada e feliz, mas cedo se preparou para ser rainha, ainda sem saber que o seu reinado seria um dos mais terríveis períodos da nossa História, o das lutas entre liberais e absolutistas, a Guerra Civil, a revolução de Setembro, a Belenzada, a Revolta dos Marechais, a Maria da Fonte, a Patuleia.
Sucedeu-lhe o seu filho mais velho, D. Pedro V.

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Maria Sklodowska

A 7 de novembro de 1867, nasce, em Varsóvia, capital da Polónia, a cientista Maria Sklodowska. Tendo ido viver para França, assume, após o casamento, o apelido do marido, passando a ser conhecida por Marie Curie. Recebeu o Prémio Nobel da Física em 1903 e o Prémio Nobel da Química em 1911.

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Dia das Nações Unidas

Após a Segunda Guerra Mundial, um apreciável número de países reuniu-se e redigiu a Carta das Nações Unidas, com o principal objetivo de manter a paz e a segurança internacionais. A data da assinatura desse documento pela maioria dos signatários - 24 de outubro de 1945 - foi escolhida para assinalar O Dia das Nações Unidas (ONU).

domingo, 19 de outubro de 2014

O Homem deformado pela Sociedade

Formou Deus o homem, e o pôs num paraíso de delícias; tornou a formá-lo a sociedade, e o pôs num inferno de tolices. O homem — não o homem que Deus fez, mas o homem que a sociedade tem contrafeito, apertando e forçando em seus moldes de ferro aquela pasta de limo que no paraíso terreal se afeiçoara à imagem da divindade — o homem assim aleijado como nós o conhecemos, é o animal mais absurdo, o mais disparatado e incongruente que habita na terra.

Almeida Garrett, in Viagens na minha Terra

sábado, 18 de outubro de 2014

António José da Silva

A 18 de outubro de 1739, morre, em Lisboa, queimado num auto de fé levado a cabo pela Inquisição, António José da Silva, dramaturgo e escritor português nascido no Brasil. Embora fosse judeu, teve de se afirmar como Cristão-Novo, devido à perseguição que Portugal fazia, na época, a todas as pessoas da religião judaica. 

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Adro das Liberdades e dos Direitos Humanos

No dia 17 de outubro de 1987, respondendo ao apelo do Padre Joseph Wresinski, cem mil pessoas reuniram-se no Adro das Liberdades e dos Direitos Humanos no Trocadéro, em Paris, apelando à humanidade para recusar situações de miséria e prestando, simultaneamente, homenagem às vítimas da fome, da violência e da ignorância. A 22 de dezembro de 1992, o dia 17 de outubro é proclamado Jornada Internacional para a Eliminação da Pobreza pela Assembleia-geral das Nações Unidas. De então para cá, as iniciativas para celebrar esta Jornada têm vindo a multiplicar-se.


terça-feira, 14 de outubro de 2014

Augusto de Castilho

O caça-minas Augusto de Castilho, um antigo barco de pesca reconvertido num navio de guerra, tinha por principal função, no decorrer da I Grande Guerra, a patrulha de alto mar, a rocega de minas e a escolta de comboios de navios. Quando escoltava o navio São Miguel, que se dirigia da Madeira para os Açores, foi surpreendido pelo fogo alemão de um submarino U-139. Apesar do navio de guerra português ter um equipamento bélico muito inferior ao submarino alemão, enfrentou-o corajosamente, permitindo a fuga do vapor São Miguel que transportava cerca de trezentas pessoas segundo o Diário de Notícias ou mais de mil e quinhentas, de acordo com o site do Museu da Marinha. O caça-minas Augusto de Castilho acabou por ser afundado pelo submarino alemão, mas os portugueses lutaram heroicamente até ao último momento, tendo perdido a vida o 1.º Tenente Carvalho Araújo, comandante do navio, assim como um aspirante a oficial e quatro praças. Demonstrando uma grande capacidade de sobrevivência, os restantes elementos da tripulação conseguiram resgatar-se numa baleeira, tendo remado, durante seis dias, através do Atlântico, até alcançar a ilha de São Miguel.

domingo, 12 de outubro de 2014

Hispanidade

O dia 12 de outubro marca uma comemoração que abrange todos os países hispânicos: El día de la hispanidad.

A partir dessa data, que marca o descobrimento da América, os povos latino-americanos e espanhóis unem-se a favor de uma das mais influentes culturas do mundo: a cultura hispânica.

Esta data é comemorada porque, no final da Idade Média, Cristóvão Colombo promoveu o encontro de dois mundos que não se conheciam. Até o século XV, as civilizações americanas desenvolviam-se separadamente, sem nenhum contacto com o mundo antigo. Por outro lado, o mundo europeu buscava ampliar os seus horizontes geográficos.
No dia 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo partiu do porto espanhol de Palos de la Frontera, Sevilha, rumo à Ásia. Iniciou a viagem por mar desconhecido ou “mar tenebroso”, como era chamado por aqueles que não entendiam de navegação.

Durante a viagem, Colombo preocupou-se em anotar no diário cada momento importante da travessia. Estes registos revelam que o percurso foi cheio de dificuldades, entre eles, a falta de comida e as doenças que atingiram parte da tripulação. Com o passar do tempo, os homens começaram a duvidar do sucesso da viagem, mas Colombo conseguiu conter os ânimos, pedindo paciência. Em poucos dias, quando avistaram terra, tudo mudou. Era o dia 12 de outubro de 1492.

A partir de então, no dia 12 de outubro de cada ano, os latino-americanos comemoram "El Día de las Culturas" ou também "Día de la Hispanidad", celebrando a união das etnias, dos povos e dos continentes.

sábado, 11 de outubro de 2014

Panhard-Levassor

A 11 de outubro de 1895, pelas 5 da tarde, chega a Santiago do Cacém o primeiro automóvel a circular em Portugal, uma viatura Panhard-Levassor. O carro, importado de Paris por D. Jorge de Avillez, um jovem aristocrata rural daquela vila do Litoral Alentejano, havia chegado ao porto de Lisboa uns dias antes. Atravessado o rio Tejo, foi acionado o seu motor, dando início à primeira viagem de automóvel em solo português à velocidade estonteante de 15 quilómetros por hora, tendo provocado tão forte pavor como fascínio entre as populações que acorreram à sua passagem.

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Askidil

Askidil protagoniza uma esplendorosa história de amor em "A Concubina", que aconteceu durante o império Otomano, no reinado do sultão Abdülhamid Han, envolvendo o próprio sultão, uma das suas concubinas, e o eunuco-chefe.
Askidil, a concubina, apaixona-se perdidamente pelo sultão tão logo conhece as delícias do leito real pela primeira vez. Para expressar o seu amor, escreve ao amado inúmeras cartas que nunca serão enviadas. Embora pareça que o amor da sensual concubina possa ser correspondido, o sultão não a procura tanto quanto ela o deseja… afinal ela é apenas uma das muitas mulheres que ele tem à disposição no seu harém.
O eunuco-chefe, enjaulado no seu triste destino, acaba por envolver-se com a bela concubina, formando-se um triângulo amoroso que o leitor acompanha nos textos plenos de emoção e poesia.
A autora e historiadora Gül Irepoglu inspirou-se nas cartas de Askidil para nos transportar para a Turquia do século XVIII, com a sua colorida e sumptuosa atmosfera onde as mulheres e as paixões humanas tinham que submeter-se a regras sociais e políticas que as aprisionavam em “gaiolas douradas”.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

1952 - Experiência atómica na ilhas britânicas Monte Bello

Observei a explosão de um ponto […] a menos de 160 quilómetros […] O continente foi atingido por forte pressão de ar, quatro minutos e quinze segundos depois do clarão. Ao mesmo tempo, ouvimos um som como de um trovão e o choque do ar e do som foi suficientemente forte para magoar os ouvidos […] O primeiro clarão da explosão foi tão brilhante como o segmento superior do Sol no ocaso.

Correspondente da Reuter

domingo, 28 de setembro de 2014

Criança

Quando vejo uma criança, ela inspira-me dois sentimentos: ternura, pelo que é, e respeito pelo que pode vir a ser.
Louis Pasteur

sábado, 27 de setembro de 2014

Amadis de Gaula

Amadis é um perfeito cavaleiro-amante e sentimental, vivendo em plena atmosfera do "serviço" cortês, caracterizado pela dedicação constante e obsessiva à bem-amada, a fim de lhe conseguir os favores. Esse traço francamente medieval é equilibrado com frequente tendência sensualista. Dessa forma, ao platonismo amoroso junta-se "um grande e mortal desejo" que incendeia o par de enamorados: Amadis e Oriana. É uma nota de primitivismo erótico, vulcânico e inebriante, desobediente a leis ou a convenções sociais e morais.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Há Homens e Homens

Há homens que lutam um dia e são bons.
Há outros que lutam um ano e são melhores.
Há os que lutam muitos anos e são muito bons.
Porém, há os que lutam toda a vida.
Esses são os imprescindíveis.
Bertold Brecht

domingo, 21 de setembro de 2014

sábado, 20 de setembro de 2014

Pedro Julião

A 20 de setembro de 1276, o médico, professor e matemático português Pedro Julião, também conhecido por Pedro Hispano, é coroado papa, tomando o nome de João XXI.

domingo, 7 de setembro de 2014

Para atravessar contigo o deserto do mundo

Para atravessar contigo o deserto do mundo 
Para enfrentarmos juntos o terror da morte 
Para ver a verdade para perder o medo 
Ao lado dos teus passos caminhei 

Por ti deixei meu reino meu segredo 
Minha rápida noite meu silêncio 
Minha pérola redonda e seu oriente 
Meu espelho minha vida minha imagem 
E abandonei os jardins do paraíso 

Cá fora à luz sem véu do dia duro 
Sem os espelhos vi que estava nua 
E ao descampado se chamava tempo 

Por isso com teus gestos me vestiste 
E aprendi a viver em pleno vento 

Sophia de Mello Breyner, in Livro Sexto


sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Agnes Gonxha Bojaxhiu

A 5 de setembro de 1997, morre, em Calcutá, Agnes Gonxha Bojaxhiu, que viria a tomar-se mundialmente conhecida como Madre Teresa de Calcutá. Aos 21 anos de idade, ingressa num convento em Calcutá, mudando o seu nome para Teresa. Onze anos mais tarde, deixa a clausura e começa a dedicar-se, nos bairros mais pobres da cidade, aos pobres, aos doentes e aos esquecidos, vindo a fundar, em 1946, a Congregação das Missionárias da Caridade. Pelo seu papel em favor dos mais necessitados, ser-lhe ia atribuído, em 1979, o Prémio Nobel da Paz.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Tratado de Alcáçovas

A rivalidade entre Portugal e Castela sobre o domínio das terras descobertas cedo se fez sentir. Ainda no século XIV, as duas nações ibéricas reivindicaram a soberania sobre as ilhas Canárias e áreas do litoral africano, gerando alguns conflitos e questões diplomáticas. A dificuldade de resolver essas questões conduziu à necessidade de intervenção do Papa, principal autoridade reconhecida internacionalmente.
É nesse contexto que a 4 de Setembro de 1479, é assinado, em Alcáçovas, entre Afonso V de Portugal e os Reis Católicos Isabel de Castela e Fernando de Aragão, um tratado pondo fim à Guerra de sucessão de Castela (1479-1480). O Tratado continha, também, cláusulas sobre o domínio do Oceano Atlântico por ambos os países. Divide a Terra através de um paralelo traçado a sul das Canárias, que reconheceu a Portugal o poder exclusivo sobre as terras a sul do arquipélago, ficando essas ilhas na posse de Castela.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Rainha do Sado

O "Diário Popular" de 1 de setembro de 1968, destaca, na primeira página, que «Lucrécia Ramos Brás, de 17 anos, aluna de uma escola técnica, foi eleita rainha do Sado de 1968. Não houve escândalo (ao contrário do que é habitual). Houve, sim, um desfile mais ou menos sereno de jovens mais ou menos tristes. Como triste é este sorriso de Lucrécia, após a simples coroação». O jormal inseria uma imagem da jovem e, mais adiante, referia os prémios da vencedora: «cinco mil escudos, um par de óculos, um retrato a óleo, tintas para pintar o quarto, um corte de vestido, produtos de beleza e um fogão».

sábado, 9 de agosto de 2014

Ode à Paz

Pela verdade, pelo riso, pela luz, pela beleza, 
Pelas aves que voam no olhar de uma criança, 
Pela limpeza do vento, pelos atos de pureza, 
Pela alegria, pelo vinho, pela música, pela dança, 
Pela branda melodia do rumor dos regatos, 


Pelo fulgor do estio, pelo azul do claro dia, 
Pelas flores que esmaltam os campos, pelo sossego dos pastos, 
Pela exatidão das rosas, pela Sabedoria, 
Pelas pérolas que gotejam dos olhos dos amantes, 
Pelos prodígios que são verdadeiros nos sonhos, 
Pelo amor, pela liberdade, pelas coisas radiantes, 
Pelos aromas maduros de suaves outonos, 
Pela futura manhã dos grandes transparentes, 
Pelas entranhas maternas e fecundas da terra, 
Pelas lágrimas das mães a quem nuvens sangrentas 
Arrebatam os filhos para a torpeza da guerra, 
Eu te conjuro ó paz, eu te invoco ó benigna, 
Ó Santa, ó talismã contra a indústria feroz. 
Com tuas mãos que abatem as bandeiras da ira, 
Com o teu esconjuro da bomba e do algoz, 
Abre as portas da História, 

                                              deixa passar a Vida!

Natália Correia, Inéditos (1985/1990)