Baltasar
Mateus , com alcunha hereditária de Sete-Sóis, é abandonado pelo
exército durante a Guerra
da Sucessão Espanhola por
ter ficado inválido devido à perda da sua mão esquerda,
representando a crítica da desumanidade na guerra. Deixado na
miséria, consegue chegar a Lisboa, onde conhece, nesse mesmo dia, Blimunda
e
o padre Bartolomeu, num auto de fé
no
Rossio.
Contava 26 anos. Imediatamente encantado
pelos
olhos de Blimunda
no
primeiro olhar, partilha, desde esse momento até morrer, a vida e os
sonhos com ela. O padre Bartolomeu fá-lo participante do sonho de
voar, projeto que será prosseguido na sua responsabilidade após o
desaparecimento deste.
Torna-se
açougueiro
em
Lisboa,
uma vez que o gancho que usa para substituir a mão lhe facilita o
trabalho e, posteriormente, integra-se como boieiro nas legiões de
operários nas obras do convento
de Mafra.
Porém, a sua principal ocupação é a construção da passarola.
Esta
personagem revela-se gradualmente o herói do romance. Pois, em
primeiro, por ser o representante do povo oprimido, o seu percurso
torna-se o foco do narrador, abatendo do primeiro plano as
personagens do grupo de poder. Em segundo, a sua relação com
Blimunda, cujos poderes são considerados heréticos, entra em
conflito com os valores da sociedade vigente, por não serem casados
oficialmente. Em terceiro, pela amizade e partilha de ideias e sonhos
com o padre Bartolomeu, que o divinizou ao compará-lo com Deus, por
achar que este também é maneta da mão esquerda. Em quarto, pela a
influência dessa amizade, Baltasar adquire o conhecimento de outras
verdades, acerca do questionamento de dogmas
religiosos e,
principalmente, sobre a consciência do papel do homem no mundo, esta
que será obtida quando Baltasar reconhecer e assumir o seu próprio
valor. E por último, porque Baltasar paga com a sua própria vida a
perseguição do sonho, o que, consequentemente, o faz transcender a
imagem do povo oprimido e espezinhado de que faz parte e que
representa. Assim, não é um herói nem um anti-herói, é
simplesmente um homem: um homem simples, elementar, fiel, terno e
maneta, que reage perante a vida com a resignação típica dos
humildes tanto de coração como de condição. Aceita apenas o que a
vida lhe oferece, sem medo do trabalho ou da morte.
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