domingo, 16 de novembro de 2014

Sete-Sóis

Baltasar Mateus , com alcunha hereditária de Sete-Sóis, é abandonado pelo exército durante a Guerra da Sucessão Espanhola por ter ficado inválido devido à perda da sua mão esquerda, representando a crítica da desumanidade na guerra. Deixado na miséria, consegue chegar a Lisboa, onde conhece, nesse mesmo dia, Blimunda e o padre Bartolomeu, num auto de fé no Rossio. Contava 26 anos. Imediatamente encantado pelos olhos de Blimunda no primeiro olhar, partilha, desde esse momento até morrer, a vida e os sonhos com ela. O padre Bartolomeu fá-lo participante do sonho de voar, projeto que será prosseguido na sua responsabilidade após o desaparecimento deste.
Torna-se açougueiro em Lisboa, uma vez que o gancho que usa para substituir a mão lhe facilita o trabalho  e, posteriormente, integra-se como boieiro nas legiões de operários nas obras do convento de Mafra. Porém, a sua principal ocupação é a construção da passarola.

Esta personagem revela-se gradualmente o herói do romance. Pois, em primeiro, por ser o representante do povo oprimido, o seu percurso torna-se o foco do narrador, abatendo do primeiro plano as personagens do grupo de poder. Em segundo, a sua relação com Blimunda, cujos poderes são considerados heréticos, entra em conflito com os valores da sociedade vigente, por não serem casados oficialmente. Em terceiro, pela amizade e partilha de ideias e sonhos com o padre Bartolomeu, que o divinizou ao compará-lo com Deus, por achar que este também é maneta da mão esquerda. Em quarto, pela a influência dessa amizade, Baltasar adquire o conhecimento de outras verdades, acerca do questionamento de dogmas religiosos e, principalmente, sobre a consciência do papel do homem no mundo, esta que será obtida quando Baltasar reconhecer e assumir o seu próprio valor. E por último, porque Baltasar paga com a sua própria vida a perseguição do sonho, o que, consequentemente, o faz transcender a imagem do povo oprimido e espezinhado de que faz parte e que representa. Assim, não é um herói nem um anti-herói, é simplesmente um homem: um homem simples, elementar, fiel, terno e maneta, que reage perante a vida com a resignação típica dos humildes tanto de coração como de condição. Aceita apenas o que a vida lhe oferece, sem medo do trabalho ou da morte.

Sem comentários:

Enviar um comentário