Protagonista de "Amor de Perdição", de Camilo Castelo Branco, inicialmente
é apresentado como um jovem de temperamento sanguinário e violento.
Perturbador da ordem para defender a plebe com quem convive e
agitador na faculdade, onde luta de forma brutal pelas ideias
jacobinas, o seu carácter transforma-se repentinamente. É que conhecera e amara, durante os três
meses em que esteve em Viseu, a vizinha Teresa. Ele com 17 anos, ela
com 15, passam a viver desde então o amor romântico: um amor que
redime os erros, que modifica as personalidades, que tem na pureza de
intenções e na honestidade de princípios as suas principais
virtudes. Aliás, são as virtudes que caracterizam os sentimentos de
Simão, desde que experimenta este amor. Torna-se recatado, estudioso
e até religioso, o que não o impede de sentir uma sede
incontrolável de vingança, que resulta no assassinato do rival
Baltasar Coutinho. Esse ato exemplifica a proximidade entre “o
sentimento moral do crime” ou “o sentimento religioso do pecado”
e a tentativa de consumação do amor. O modo como assume este crime,
recusando-se a aceitar todas as tentativas de escamoteá-lo, feitas
pelos amigos do seu pai, acaba de configurar o carácter passional do
comportamento de Simão. Nem a possibilidade da forca e do degredo,
nem as misérias sofridas no cárcere conseguem abater a firmeza, a
dignidade, a obstinação que transformam Simão Botelho em símbolo
heróico da resistência do indivíduo perante as vilezas da
sociedade. Por outras palavras, estamos perante um típico herói ultra-romântico.
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