segunda-feira, 31 de março de 2014

João da Ega

João da Ega é a projeção literária de Eça de Queirós. Tal como Eça, usava "um vidro entalado no olho", tinha "nariz adunco, pescoço esganiçado, punhos tísicos e pernas de cegonha".
É um personagem contraditório. Por um lado, romântico e sentimental, por outro, progressista e crítico, sarcástico do Portugal Constitucional.
Era o Mefistófeles de Celorico. Amigo íntimo de Carlos desde os tempos de Coimbra, onde se formara em Direito (muito lentamente). A mãe era uma rica viúva e beata que vivia ao pé de Celorico de Bastos, com a filha.
Boémio, excêntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral. É leal com os amigos. Sofre também de diletantismo (concebe grandes projetos literários que nunca chega a executar). Terminado o curso, vem viver para Lisboa e torna-se amigo inseparável de Carlos. Como este, também ele teve a sua grande paixão - Raquel Cohen. Não passa de um falhado, corrompido pela sociedade.
Encarna a figura defensora dos valores da escola realista por oposição à romântica. Na prática, revela-se um eterno romântico.

Nos últimos capítulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga. É a ele que Guimarães entrega o cofre. É juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso. É ele que diz a verdade a Maria Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definitivamente.

Personagem de Os Maias, de Eça de Queirós

domingo, 30 de março de 2014

O verbo no infinito


Ser criado, gerar-se, transformar
O amor em carne e a carne em amor; nascer
Respirar, e chorar, e adormecer
E se nutrir para poder chorar

Para poder nutrir-se; e despertar
Um dia à luz e ver, ao mundo e ouvir
E começar a amar e então sorrir
E então sorrir para poder chorar.

E crescer, e saber, e ser, e haver
E perder, e sofrer, e ter horror
De ser e amar, e se sentir maldito

E esquecer de tudo ao vir um novo amor
E viver esse amor até morrer
E ir conjugar o verbo no infinito...



Vinicius de Moraes

sábado, 29 de março de 2014

Jean Valjean

Jean Valjean é a personagem principal do livro "Os Miseráveis", de Victor Hugo. A sua história é bastante trágica. Perde os dois pais ainda criança, sendo criado pela irmã. Quando ela fica viúva, com sete filhos para criar, ele começa a ajudá-la. Um inverno, porém, ele não consegue emprego. Desesperado, rouba um pão. É preso e condenado a cinco anos de trabalhos forçados, que, acrescidos de diversas fugas, tornam-se dezanove. Aos poucos ele vai percebendo que quem cometeu um crime não foi ele, foi a sociedade, pois o prejuízo que causou foi ínfimo em comparação ao que sofreu.
É expulso de todos os lugares, pelo simples facto de ser um condenado. O único que o abriga é Don Bienvenu, bispo de Digne. Jean Valjean rouba-lhe os talheres e foge no meio da noite. Porém é apanhado pela polícia e levado à casa do bispo. Don Bienvenu, ao contrário do esperado, diz aos agentes da autoridade que lhe dera os talheres, e pergunta-lhe por que não levou também os castiçais. Tamanha bondade vinda de um ser humano faz Jean Valjean repensar a sua posição em relação aos homens e à sociedade.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Partida


É difícil suportar,
A dor da despedida,
Principalmente quando a partida,
É para nunca mais voltar.
Jair de Assis

http://barrigalisa.pt/tag/cha-emagrecedor

quarta-feira, 26 de março de 2014

O Feiticeiro de Oz

O Feiticeiro de Oz conta a história de Dorothy que, juntamente com o seu cão Totó, é levada por um tornado para um mundo mágico que fica para além do Arco-íris. A única forma de poder regressar à sua casa, no Kansas, é encontrar o poderoso Feiticeiro de Oz.

Na sua viagem, vão-se-lhe juntar um Espantalho que procura alguém que lhe dê um cérebro, um Homem de Lata que anseia conhecer alguém que lhe dê um coração e um Leão muito medroso que gostava de ter coragem.

O Feiticeiro de Oz é uma fábula fantástica, plena de misticismo e psicadelismo. É uma mensagem moral, com simbolismos e crítica social. Se por um lado é uma maravilhosa história de quatro companheiros de viagem que afinal são só um, que se consciencializam dos mais importantes valores da vida, por outro lado é o olhar de uma criança que toma contacto com o mundo industrializado (Homem de Lata), politizado (Leão) e ambiental (Espantalho) e que, para atingir os seus sonhos, tem de percorrer a Estrada dos Tijolos Amarelos, ou seja, o ouro do espírito como caminho da sua própria vida.


terça-feira, 25 de março de 2014

O telurismo torguiano

No seu telurismo, Torga afirma, convictamente, que o homem deve unir-se à Terra, ser-lhe fiel, pois para o poeta, a terra surge como a base da vida e do sentido, chegando mesmo a considerá-la como um ventre materno. Torga personifica a Terra como uma mulher disposta para a fecundação, considerando-a como um ventre materno. O sentimento de identificação com a terra projeta-se num amor pelo “reino maravilhoso” que é S. Martinho de Anta, Portugal e a Ibéria. O telurismo de Torga exprime-se no seu apego à terra, na sua fidelidade ao povo, na sua consciência de português, de ibérico, no espírito da comunhão europeia e universal.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Desencontro

Que língua estrangeira é esta
que me roça a flor do ouvido,
um vozear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussurro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentindo, e é apenas som.

Contracenamos por gestos,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
cumprimentos indigestos,
firmes aperto de mão,
passeiso de braço dado,
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra solidão.
António Gedeão

domingo, 23 de março de 2014

Miss Marple

Miss Jane Marple é uma anciã que mora na pequena aldeia inglesa de St. Mary Mead. Aparentemente é uma idosa comum, que se veste com roupas de lã e é vista, frequentemente, tricotando e tirando as ervas daninhas do seu jardim. Às vezes, é considerada confusa ou caduca, mas quando passa a resolver mistérios, mostra ter uma mente lógica e afiada, e um conhecimento incomparável da natureza humana com todas as suas fraquezas, forças, truques e excentricidades. Nunca se casou e não tem nenhum parente vivo íntimo a não ser um sobrinho. Miss Marple resolve crimes difíceis não apenas por causa da sua inteligência, mas porque St. Mary Mead lhe deu exemplos aparentemente infinitos do lado negativo da natureza humana. Nenhum crime pode surgir sem que Miss Marple se lembre de algum incidente paralelo ocorrido no pequeno vilarejo. 
Personagem de Agatha Christie


sábado, 22 de março de 2014

The Hours

Três épocas, três mulheres em três histórias que se mesclam e se transformam pela influência de uma grande obra literária. A primeira é Virgínia Woolf, que vive num subúrbio londrino nos anos 20, lutando contra a insanidade enquanto começa a escrever o seu primeiro grande romance, "Mrs. Dalloway". As outras mulheres, a dona de casa Laura Brown, de Los Angeles, nos anos 40, e a editora Clarissa Vaughan, nos dias de hoje, em Nova York, enfrentam situações diferentes entrelaçadas pelo livro que Virgínia escreveu, fundindo-se num final surpreendente.




sexta-feira, 21 de março de 2014

quinta-feira, 20 de março de 2014

Para sempre


Por que Deus permite
que as mães vão-se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.
Carlos Drummond de Andrade


quarta-feira, 19 de março de 2014

Eugénio Ponces

Eugênio Pontes, moço de origem humilde, a muito custo consegue tirar medicina e tornar-se médico. Graças a um casamento por interesse, ingressa na elite da sociedade. Nesse percurso, porém, é obrigado a virar as costas à família, deixar de lado antigos ideais humanitários e abandonar a mulher que realmente ama. Sensível, comovente, "Olhai os Lírios do Campo" é um convite à reflexão sobre os valores autênticos da vida.
Personagem de Olhai os Lírios do Campo, de Erico Veríssimo


domingo, 16 de março de 2014

Blimunda de Jesus

Blimunda de Jesus é uma mulher do povo, a quem o Padre Bartolomeu, batiza de “Sete Luas”;
Possui o dom de, em jejum, ver o interior das pessoas e das coisas, o que lhe permite recolher as duas mil “vontades” indispensável para o funcionamento da passarola; (página 79/80)
Esta mulher representa a força que permite ao povo a sua sobrevivência, assim como a contestação do poder e resistência;
É detentora de grande densidade psicológica e de uma perseverança sem limites;
Esta personagem vive um amor apaixonado, franco e leal com Baltasar; é o seu complemento.
Simbolicamente, o nome da personagem acaba por funcionar como uma espécie de reverso do de Baltasar;
Para além da presença do sete, Sol e Lua completam-se: são a luz e a sombra que compõem o dia – Baltasar e Blimunda são, pelo amor que os une, um só;
A relação entre os dois é também subversiva porque não existe casamento oficial e porque os dois têm os mesmos direitos, facto improvável em pleno século XVIII;
Blimunda tem uma grande firmeza interior, uma forma de oferecer-se em silêncio e de aceitar a vida e os seus desígnios sem orgulho nem submissão, com a naturalidade de quem sabe onde está e para quê. 

Personagem em Memorial do Convento de José Saramago


sábado, 15 de março de 2014

Carta (a um poeta)


Meu caro poeta,

Por um lado foi bom que me tivesses pedido resposta urgente, senão eu jamais escreveria sobre o assunto desta, pois não possuo o dom discursivo e expositivo, vindo daí a dificuldade que sempre tive de escrever em prosa. A prosa não tem margens, nunca se sabe quando, como e onde parar. O poema, não; descreve uma parábola tracada pelo próprio impulso (ritmo); é que nem um grito. Todo poema é, para mim, uma interjeição ampliada; algo de instintivo, carregado de emoção. Com isso não quero dizer que o poema seja uma descarga emotiva, como o fariam os românticos. Deve, sim, trazer uma carga emocional, uma espécie de radioatividade, cuja duração só o tempo dirá. Por isso há versos de Camões que nos abalam tanto até hoje e há versos de hoje que os pósteros lerão com aquela cara com que lemos os de Filinto Elísio. Aliás, a posteridade é muito comprida: me dá sono. Escrever com o olho na posteridade é tão absurdo como escreveres para os súbditos de Ramsés II, ou para o próprio Ramsés, se fores palaciano. Quanto a escrever para os contemporâneos, está muito bem, mas como é que vais saber quem são os teus contemporâneos? A única contemporaneidade que existe é a da contingência política e social, porque estamos mergulhados nela, mas isto compete melhor aos discursivos e expositivos, aos oradores e catedráticos. Que sobra então para a poesia? – perguntarás. E eu te respondo que sobras tu. Achas pouco? Não me refiro à tua pessoa, refiro-me ao teu eu, que transcende os teus limites pessoais, mergulhando no humano. O Profeta diz a todos: “eu vos trago a verdade”, enquanto o poeta, mais humildemente, se limita a dizer a cada um: “eu te trago a minha verdade.” E o poeta, quanto mais individual, mais universal, pois cada homem, qualquer que seja o condicionamento do meio e e da época, só vem a compreender e amar o que é essencialmente humano. Embora, eu que o diga, seja tão difícil ser assim autêntico. Às vezes assalta-me o terror de que todos os meus poemas sejam apócrifos!
Meu poeta, se estas linhas estão te aborrecendo é porque és poeta mesmo. Modéstia à parte, as disgressões sobre poesia sempre me causaram tédio e perplexidade. A culpa é tua, que me pediste conselho e me colocas na insustentável situação em que me vejo quando essas meninas dos colégios vêm (por inocência ou maldade dos professores) fazer pesquisas com perguntas assim: “O que é poesia? Por que se tornou poeta? Como escrevem os seus poemas?” A poesia é dessas coisas que a gente faz mas não diz.
A poesia é um fato consumado, não se discute; perguntas-me, no entanto, que orientação de trabalho seguir e que poetas deves ler. Eu tinha vontade de ser um grande poeta para te dizer como é que eles fazem. Só te posso dizer o que eu faço. Não sei como vem um poema. Às vezes uma palavra, uma frase ouvida, uma repentina imagem que me ocorre em qualquer parte, nas ocasiões mais insólitas. A esta imagem respondem outras. Por vezes uma rima até ajuda, com o inesperado da sua associação. (Em vez de associações de idéias, associações de imagem; creio ter sido esta a verdadeira conquista da poesia moderna.) Não lhes oponho trancas nem barreiras. Vai tudo para o papel. Guardo o papel, até que um dia o releio, já esquecido de tudo (a falta de memória é uma bênção nestes casos). Vem logo o trabalho de corte, pois noto logo o que estava demais ou o que era falso. Coisas que pareciam tão bonitinhas, mas que eram puro enfeite, coisas que eram puro desenvolvimento lógico (um poema não é um teorema) tudo isso eu deito abaixo, até ficar o essencial, isto é, o poema. Um poema tanto mais belo é quanto mais parecido for com o cavalo. Por não ter nada de mais nem nada de menos é que o cavalo é o mais belo ser da Criação.
Como vês, para isso é preciso uma luta constante. A minha está durando a vida inteira. O desfecho é sempre incerto. Sinto-me capaz de fazer um poema tão bom ou tão ruinzinho como aos 17 anos. Há na Bíblia uma passagem que não sei que sentido lhe darão os teólogos; é quando Jacob entra em luta com um anjo e lhe diz: “Eu não te largarei até que me abençoes”. Pois bem, haverá coisa melhor para indicar a luta do poeta com o poema? Não me perguntes, porém, a técnica dessa luta sagrada ou sacrílega. Cada poeta tem de descobrir, lutando, os seus próprios recursos. Só te digo que deves desconfiar dos truques da moda, que, quando muito, podem enganar o público e trazer-te uma efêmera popularidade.
Em todo caso, bem sabes que existe a métrica. Eu tive a vantagem de nascer numa época em que só se podia poetar dentro dos moldes clássicos. Era preciso ajustar as palavras naqueles moldes, obedecer àquelas rimas. Uma bela ginástica, meu poeta, que muitos de hoje acham ingenuamente desnecessária. Mas, da mesma forma que a gente primeiro aprendia nos cadernos de caligrafia para depois, com o tempo, adquirir uma letra própria, espelho grafológico da sua individualidade, eu na verdade te digo que só tem capacidade e moral para criar um ritmo livre quem for capaz de escrever um soneto clássico. Verás com o tempo que cada poema, aliás, impõe sua forma; uns, as canções, já vêm dançando, com as rimas de mãos dadas, outros, os dionisíacos (ou histriônicos, como queiras) até parecem aqualoucos. E um conselho, afinal: não cortes demais (um poema não é um esquema); eu próprio que tanto te recomendei a contenção, às vezes me distendo, me largo num poema que vai lá seguindo com os detritos, como um rio de enchente, e que me faz bem, porque o espreguiçamento é também uma ginástica. Desculpa se tudo isso é uma coisa óbvia; mas para muitos, que tu conheces, ainda não é; mostra-lhes, pois, estas linhas.
Agora, que poetas deves ler? Simplesmente os poetas de que gostares e eles assim te ajudarão a compreender-te, em vez de tu a eles. São os únicos que te convêm, pois cada um só gosta de quem se parece consigo. Já escrevi, e repito: o que chamam de influência poética é apenas confluência. Já li poetas de renome universal e, mais grave ainda, de renome nacional, e que no entanto me deixaram indiferente. De quem a culpa? De ninguém. É que não eram da minha família.

Enfim, meu poeta, trabalhe, trabalhe em seus versos e em você mesmo e apareça-me daqui a vinte anos. Combinado?

Mario Quintana

sexta-feira, 14 de março de 2014

Lourença

Lourença tinha três irmãos. Todos aprendiam a fazer habilidades como cãezinhos, e tocavam guitarra ou dançavam em pontas dos pés. Ela não. Era até um bocado infeliz para aprender, e admirava-se de que lhe quisessem ensinar tantas coisas aborrecidas e que ela tinha de esquecer o mais depressa possível. O que mais gostava de fazer era comer maçãs e deitar-se para dormir. Mas não dormia. Fechava os olhos e acontecia-lhe então uma aventura bonita e conhecia gente maravilhosa. Eram as pessoas que ela via no cinema ou que ela já tinha encontrado cm qualquer parte, mas que não sabia quem eram. Não gostava de ninguém que se pusesse entre ela e a imaginação, como um muro, e a não deixasse ver as coisas de maneira diferente. Não gostava que lhe tocassem e, sobretudo, que a gente grande pesasse com a grande mão em cima da sua cabeça. Apetecia-lhe morder-lhes e fugir depressa. Mas não fazia nada disso. Ficava quieta e olhava para a frente dela, cheia de seriedade. Isto tinha o efeito de causar estranheza, e diziam sempre que ela era uma menina obediente e sossegada. Mas retiravam a mão. Tinham-lhe posto o nome de «dentes de rato», porque os dentes dela eram pequenos e finos, e pela mania que ela tinha de morder a fruta que estava na fruteira e deixar lá os dentes marcados.

Agustina Bessa Luís, Dentes de Rato

quinta-feira, 13 de março de 2014

Primavera

Quero apenas cinco coisas..
Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono
A terceira é o grave inverno
Em quarto lugar o verão
A quinta coisa são teus olhos
Não quero dormir sem teus olhos.
Não quero ser... sem que me olhes.
Abro mão da primavera para que continues me olhando.

Pablo Neruda


quarta-feira, 12 de março de 2014

A Criança

A criança portuguesa é excessivamente viva, inteligente e imaginativa. Em geral, nós outros, os Portugueses, só começamos a ser idiotas - quando chegamos à idade da razão. Em pequenos temos todos uma pontinha de génio.
Eça de Queirós


terça-feira, 11 de março de 2014

O Pianista

Premiado em 2002 com a Palma de Ouro em Cannes e com três óscares da Academia, este filme é uma adaptação a partir da autobiografia do pianista polaco Wladyslaw Szpilman. Wladyslaw Szpilman interpretava peças clássicas numa rádio em Varsóvia, quando as primeiras bombas caíram sobre a cidade, em 1939. Com a invasão alemã vieram também as restrições aos judeus polacos impostas pelos nazis. O filme mostra o aparecimento do Gueto de Varsóvia, quando os alemães construíram muros para encerrar os judeus numa área ciscunscrita, e acompanha a perseguição que levou à captura e envio da família de Szpilman para os campos de concentração. O pianista consegue escapar e sobrevive no meio dos escombros da cidade.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Clarissa

Em "Clarissa", Erico Veríssimo apresenta o retrato da vida quotidiana urbana do Rio Grande do Sul, Brasil, na década de 30. Nesse contexto, o autor possui como foco a classe média com os seus anseios, vitórias e fracassos. A história é centralizada numa menina, Clarissa, que vem de Jacarecanga (cidade imaginária) para Porto Alegre morar com a tia Eufrasina, a fim de estudar e formar-se professora para depois voltar à terra natal. Assim, o mundo é revelado pela perspetiva da protagonista que, com uma conceção de mundo adolescente, vai descobrindo as coisas e as pessoas à sua volta: a esposa infiel, o músico contemplativo, a tia conservadora, a viúva e o seu filho mutilado ...

Livro de Erico Veríssimo


domingo, 9 de março de 2014

Poema Melancólico a não sei que Mulher

Dei-te os dias, as horas e os minutos
Destes anos de vida que passaram;

Nos meus versos ficaram

Imagens que são máscaras anónimas

Do teu rosto proibido;
A fome insatisfeita que senti
Era de ti,
Fome do instinto que não foi ouvido.

Agora retrocedo, leio os versos,
Conto as desilusões no rol do coração,
Recordo o pesadelo dos desejos,
Olho o deserto humano desolado,
E pergunto porquê, por que razão
Nas dunas do teu peito o vento passa
Sem tropeçar na graça
Do mais leve sinal da minha mão...
Miguel Torga


sexta-feira, 7 de março de 2014

Soneto Antigo

Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento.
Cecília Meireles



quinta-feira, 6 de março de 2014

Maria da Fonte

Assim se chamou a revolução que rebentou no Minho em maio de 1846 contra o governo de Costa Cabral, mais tarde conde e marquês de Tomar. A causa imediata da revolta foram umas questões de recrutamento, e a proibição dos enterramentos feitos dentro das igrejas, em que desempenhou um papel irrequieto e ativo uma desembaraçada mulher das bandas da Póvoa de Lanhoso, conhecida pelo nome de Maria da Fonte. Os tumultos multiplicaram-se, tomando afinal as proporções sérias duma insurreição, que lavrou em grande parte do reino.


quarta-feira, 5 de março de 2014

O aviador

O Aviador, realizado por Martin Scorsese e escrito por John Logan, relata a história de uma das figuras mais marcantes da América do Século XX, Howard Hughes, o excêntrico multimilionário da América dos anos 30. Apaixonado por aviões e cinema, a sua grande paixão por mulheres ficou igualmente para a história. O filme retrata a sua vida desde os finais dos anos 20 até aos anos 40, uma época em que Hughes era produtor e realizador em Hollywood, desenhava e criava aviões e relacionava-se com algumas das mais belas e elegantes mulheres da sua época, entre as quais duas lendas de Hollywood, a elegante Katherine Hepburn, e a sensual e luminosa Ava Gardner. 
Mas Hughes também tinha as suas próprias incapacidades e fobias, e as suas crescentes extravagâncias e obsessivo comportamento vão levá-lo ao seu próprio isolamento. Audacioso piloto, o mais famoso desde Charles Lindbergh, Hughes tornou-se comandante da aviação comercial. Ele transformou-se numa figura mítica da América dos seus dias, envolto numa aura de agitação, encanto, sedução e mistério.


terça-feira, 4 de março de 2014

Viver é não Saber que se Vive

Ponho-me, às vezes, a olhar para o espelho e a examinar-me, feição por feição: os olhos, a boca, o modelado da fronte, a curva das pálpebras, a linha da face... E esta amálgama grosseira e feia, grotesca e miserável, saberia fazer versos? Ah, não! Existe outra coisa... mas o quê? Afinal, para que pensar? Viver é não saber que se vive. Procurar o sentido da vida, sem mesmo saber se algum sentido tem, é tarefa de poetas e de neurasténicos. Só uma visão de conjunto pode aproximar-se da verdade. Examinar em detalhe é criar novos detalhes. Por debaixo da cor está o desenho firme e só se encontra o que se não procura. Porque me não esqueço eu de viver... para viver?

Florbela  Espanca, in Diário do Último Ano


segunda-feira, 3 de março de 2014

Pétala dobrada

Pétala dobrada para trás da rosa que outros dizem de veludo.
Apanho-te do chão e, de perto, contemplo-te de longe.

Não há rosas no meu quintal: que vento te trouxe?

Mas chego de longe de repente. Estive doente um momento.

Nenhum vento te trouxe agora.

Agora estás aqui.

O que foste não és tu, se não toda a rosa estava aqui.



Alberto Caeiro, in Poemas Inconjuntos


domingo, 2 de março de 2014

Por quem os sinos dobram

Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem diminui-me, porque sou parte do género humano. E por isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles dobram por ti.

John Donne, Meditações VII


sábado, 1 de março de 2014

Condessa de Gouvarinho

Cabelos crespos e ruivos, nariz petulante, olhos escuros e brilhantes, bem feita, pele clara, fina e doce; é casada com o conde de Gouvarinho e é filha de um comerciante inglês do Porto.
É imoral e sem escrúpulos. Trai o marido, com Carlos, sem qualquer tipo de remorsos. Questões de dinheiro e a mediocridade do conde fazem com que o casal se desentenda.
Envolve-se com Carlos e revela-se apaixonada e impetuosa. Este deixa-a, pois acaba por perceber que ela é uma mulher sem qualquer interesse, demasiado fútil.
No final, depois de ter levado uma sova do marido, que descobriu a traição, tudo fica bem entre o casal.

Personagem de Os Maias de Eça de Queirós