quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Via Láctea

Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto
A Via Láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
Olavo Bilac

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Bula Manifestis Probatum

"Concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos os vizinhos príncipes cristãos."

A bula Manifestis probatum est argumentis, de 23 de maio de 1179, foi, concedida por um dos papas mais cultos da Idade Média, professor de direito e de teologia, cujas teorias do poder papal aplica depois de eleito Papa. Alexandre III exerceu uma influência incontestável na Europa do seu tempo. D. Afonso Henriques, tomando-se tributário da Santa Sé e prestando vassalagem ao Papa, obteve o apoio necessário e indispensável na época para garantir uma independência já adquirida de facto, mas ainda não confirmada expressamente pela única autoridade que podia conceder-lha.
De resto, o teor da bula claramente nos indica que o privilégio concedido se devia aos inumeráveis serviços prestados à Santa Igreja pela propagação da fé cristã, que assinalaria D. Afonso Henriques aos vindouros como um nome digno de memória e um exemplo merecedor de imitação, e porque a Providência divina escolhera-o para governo e salvação do povo.

Christmas cake:

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Tieta do Agreste

Na pequena cidade baiana de Santana do Agreste, Antonieta "Tieta" Esteves é uma bela pastora, que apesar da opressão do pai Zé Esteves e a inveja da irmã Perpétua, vive uma vida alegre e despreocupada e cedo descobre a sua sensualidade e um gosto pelos prazeres da carne. Por causa disso, acaba por ser escorraçada pelo pai para fora da cidade, sem que ninguém, à exceção de Dona Milu, interceda. 
Vinte anos depois, regressa bem mais madura e vivida, e sobretudo bastante rica, disposta a vingar-se. Todos a julgam viúva de um industrial rico e influente de São Paulo, mas a verdade é que Tieta enveredou pela prostituição subindo a pulso até ser dona de um bordel de luxo, facto que esconde de todos. Consigo traz Leonora, uma das suas "meninas" que se faz passar por sua enteada.

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Uma guerra global

A 8 de dezembro de 1941, a Grã-Bretanha, a Austrália e os Estados Unidos da América declaram guerra ao Japão. O Sião é invadido pelas forças nipónicas. A Rádio de Tóquio anuncia a entrada de tropas japonesas na Tailândia. Em Singapura, uma formação naval japonesa é atacada por aviões ingleses, tendo sido atingido o navio almirante. Nove aviões japoneses bombardeiam Kaulun, a partir de Hong Kong. A aviação nipónica lança violentos ‘raids’ contra ilhas norte-americanas no pacífico. Sobre todos estes acontecimentos, o Diário de Lisboa de 9 de dezembro de 1941 escreve: «A guerra universaliza-se, pois abrange, de perto ou de longe, todos os povos e, o que é mais, a própria civilização».

Mini chocolat bundt cake

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Pearl Harbor

A 7 de dezembro de 1941, aeroplanos japoneses comandados pelo Vice-Almirante Chuichi Nagumo atacam de surpresa Pearl Harbor, a maior base naval norte-americana do Pacífico, afundando ou danificando gravemente dezanove navios de guerra e destruindo ou danificando 343 aviões. Como consequência deste ataque, os Estados Unidos entram na II Guerra Mundial.

domingo, 6 de dezembro de 2015

Volúpia

No divino impudor da mocidade, 
Nesse êxtase pagão que vence a sorte, 
Num frêmito vibrante de ansiedade, 
Dou-te o meu corpo prometido à morte! 

A sombra entre a mentira e a verdade... 
A nuvem que arrastou o vento norte... 
- Meu corpo! Trago nele um vinho forte: 
Meus beijos de volúpia e de maldade! 

Trago dálias vermelhas no regaço... 
São os dedos do sol quando te abraço, 
Cravados no teu peito como lanças! 

E do meu corpo os leves arabescos 
Vão-te envolvendo em círculos dantescos 
Felinamente, em voluptuosas danças... 
Florbela Espanca, in Charneca em Flor

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta. 
E lastimava, ignorante, a falta. 
Hoje não a lastimo. 
Não há falta na ausência. 
A ausência é um estar em mim. 
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, 
que rio e danço e invento exclamações alegres, 
porque a ausência, essa ausência assimilada, 
ninguém a rouba mais de mim. 
Carlos Drummond de Andrade, in O Corpo
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quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

É p´ra amanhã

É p'ra amanhã
Bem podias fazer hoje
Porque amanha sei que voltas a adiar
E tu bem sabes como o tempo foge
Mas nada fazes para o agarrar

Foi mais um dia e tu nada fizeste
Um dia a mais tu pensas que nao faz mal
Vem outro dia e tudo se repete
E vais deixando ficar tudo igual

É p'ra amanhã
Bem podias viver hoje
Porque amanha quem sabe se vais ca estar
Ai tu bem sabes como a vida foge
Mesmo que penses que esta p'ra durar

Foi mais um dia e tu nada viveste
Deixas passar os dias sempre iguais
Quando pensares no tempo que perdeste
Entao tu queres mas é tarde demais

É p'ra amanhã
Deixa la nao facas hoje
Porque amanha tudo se ha-de arranjar
Ai tu bem sabes que o trabalho foge
Mesmo de quem diz que quer trabalhar

Eu sei que tu andas a procurar
Esse lugar que acerte bem contigo
Do que aparece nao consegues gostar
E do que gostas ja esta preenchido

António Variações

Photo de la recette : Brownies Sapin de Noël

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Contemplo o que não Vejo

Contemplo o que não vejo. 
É tarde, é quase escuro. 
E quanto em mim desejo 
Está parado ante o muro. 

Por cima o céu é grande; 
Sinto árvores além; 
Embora o vento abrande, 
Há folhas em vaivém. 

Tudo é do outro lado, 
No que há e no que penso. 
Nem há ramo agitado 
Que o céu não seja imenso. 

Confunde-se o que existe 
Com o que durmo e sou. 
Não sinto, não sou triste. 
Mas triste é o que estou. 
Fernando Pessoa, in Cancioneiro

domingo, 29 de novembro de 2015

O homem

O homem é dono do que cala e escravo do que fala.
Quando Pedro me fala sobre Paulo, sei mais de Pedro do que de Paulo.
Sigmund Freud

Cupcakes

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

domingo, 15 de novembro de 2015

O Caminho da Vida

O caminho da vida pode ser o da liberdade e da beleza, porém afastamo-nos dele.
A cobiça envenenou a alma dos homens... levantou no mundo as muralhas do ódio ... e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e morticínios.

Criamos a época da velocidade, mas sentimo-nos enclausurados dentro dela. A máquina, que produz abundância, tem-nos deixado em penúria.
Os nossos conhecimentos fizeram-nos céticos; a nossa inteligência, empedernidos e cruéis. Pensamos em demasia e sentimos bem pouco.
Mais do que de máquinas, precisamos de humanidade. Mais do que de inteligência, precisamos de afeição e doçura. Sem essas virtudes, a vida será de violência e tudo será perdido.

Charlie Chaplin

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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

A velhice pede desculpas

Tão velho estou como árvore no inverno,
vulcão sufocado, pássaro sonolento.
Tão velho estou, de pálpebras baixas,
acostumado apenas ao som das músicas,
à forma das letras.

Fere-me a luz das lâmpadas, o grito frenético
dos provisórios dias do mundo:
Mas há um sol eterno, eterno e brando
e uma voz que não me canso, muito longe, de ouvir.

Desculpai-me esta face, que se fez resignada:
já não é a minha, mas a do tempo,
com seus muitos episódios.

Desculpai-me não ser bem eu:
mas um fantasma de tudo.
Recebereis em mim muitos mil anos, é certo,
com suas sombras, porém, suas intermináveis sombras.

Desculpai-me viver ainda:
que os destroços, mesmo os da maior glória,
são na verdade só destroços, destroços. 
Cecília Meireles, in Poemas (1958)

domingo, 25 de outubro de 2015

Sport Lisboa e Benfica

A 25 de outubro de 2003, é inaugurado, em Lisboa, o novo estádio do Sport Lisboa e Benfica, com a realização de um jogo amigável contra a equipa uruguaia do Nacional de Montevideo.

Gelateria Santini - melhor sorvete de Portugal

sábado, 24 de outubro de 2015

Carta das Nações Unidas

A data da assinatura deste documento pela maioria dos signatários - 24 de outubro de 1945 - foi escolhida para assinalar O Dia das Nações Unidas (ONU). Rege-se pelos seguintes objetivos:
Manter a paz e a segurança internacionais e para esse fim: tomar medidas coletivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os atos de agressão, ou outra qualquer rutura da paz e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional, a um ajustamento ou solução das controvérsias ou situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz;
Desenvolver relações de amizade entre as nações baseadas no respeito do princípio da igualdade de direitos e da autodeterminação dos povos, e tomar outras medidas apropriadas ao fortalecimento da paz universal;
Realizar a cooperação internacional, resolvendo os problemas internacionais de carácter económico, social, cultural ou humanitário, promovendo e estimulando o respeito pelos direitos do homem e pelas liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião;
Ser um centro destinado a harmonizar a ação das nações para a consecução desses objetivos comuns.

sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Esta Gente

Esta gente cujo rosto 
Às vezes luminoso 
E outras vezes tosco 

Ora me lembra escravos 
Ora me lembra reis 

Faz renascer meu gosto 
De luta e de combate 
Contra o abutre e a cobra 
O porco e o milhafre 

Pois a gente que tem 
O rosto desenhado 
Por paciência e fome 
É a gente em quem 
Um país ocupado 
Escreve o seu nome 

E em frente desta gente 
Ignorada e pisada 
Como a pedra do chão 
E mais do que a pedra 
Humilhada e calcada 

Meu canto se renova 
E recomeço a busca 
De um país liberto 
De uma vida limpa 
E de um tempo justo 

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Geografia 

bolo (2)

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Basílica de Mafra

D. João V, rei de Portugal, havia prometido construir uma basílica se a sua esposa, D. Maria Ana Josefa de Áustria, lhe desse descendência. O nascimento da princesa D. Maria Bárbara foi interpretado por este monarca como uma graça divina, pelo que, não olhando a despesas, mandou construir, em Mafra, um enorme edifício composto por uma basílica, um palácio real e um convento com uma das mais belas bibliotecas europeias. Às 7 horas da manhã de 22 de Outubro de 1730, dia em que o rei fazia 41 anos de idade, iniciou-se a festa de consagração da basílica, que se prolongaria até às 7 de manhã do dia seguinte. Foi servido, na ocasião, um banquete popular a 9000 pessoas. As festas acabariam por se estender por mais 7 dias, ao som das melodias dos dois enormes carrilhões mandados vir expressamente de Antuérpia.

A- Cornocópias

quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Martim Moniz

Em 1147, D. Afonso Henriques, ajudado por cruzados que se dirigiam para a Terra Santa, enceta um cerco ao Castelo de Lisboa, com o intuito de conquistar esta fortificação aos mouros. Durante uma das investidas, concretizada a 21 de outubro de 1147, teria existido um tal Martim Moniz que se deixou entalar numa das portas do castelo para permitir a entrada dos sitiantes. Os historiadores não podem comprovar a existência real desta personagem em virtude de não haver qualquer documento da época que a ela faça referência. Citam-na, no entanto, como figura lendária da História de Portugal.

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domingo, 18 de outubro de 2015

António José da Silva

A 18 de outubro de 1739, morre, em Lisboa, queimado num auto de fé levado a cabo pela Inquisição, António José da Silva, dramaturgo e escritor português nascido no Brasil. Embora fosse judeu, teve de se afirmar como Cristão-Novo, devido à perseguição que Portugal fazia, na época, a todas as pessoas da religião judaica.  "Anfitrião", de 1736, e "Guerras do Alecrim e Manjerona", de 1737 são duas das suas obras mais conhecidas.
                                           Cheesecake de Chocolate e  Cereja | Leite Condensado

sábado, 17 de outubro de 2015

Adro das Liberdades e dos Direitos Humanos

No dia 17 de outubro de 1987, respondendo ao apelo do Padre Joseph Wresinski, cem mil pessoas reuniram-se  no Adro das Liberdades  e  dos Direitos Humanos  no Trocadéro,  em Paris, apelando  à humanidade para recusar situações de miséria e prestando, simultaneamente, homenagem às vítimas da fome, da violência e da ignorância.  A 22 de dezembro de  1992,  o dia 17 de outubro é proclamado Jornada Internacional para a Eliminação da Pobreza pela Assembleia-geral das Nações Unidas. De então para cá, as iniciativas para celebrar esta Jornada têm vindo a multiplicar-se.

Faça geleia de frutas sem açúcar

domingo, 27 de setembro de 2015

Sylvia Pankhurst

A 27 de setembro de 1960, morre, na Etiópia, a ativista social inglesa Sylvia Pankhurst. Defendeu o sufrágio das mulheres, opôs-se ao racismo e à ascensão do fascismo na Europa e escondeu refugiados judeus.


sábado, 26 de setembro de 2015

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Aqui ao leme

Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um Povo que quer o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
De El-Rei D. João Segundo!

Fernando Pessoa, in Mensagem

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Paz

Em época de paz, os filhos enterram os pais, enquanto em época de guerra são os pais que enterram os filhos.
Heródoto

domingo, 20 de setembro de 2015

Pedro Hispano

A 20 de setembro de 1276, o médico, professor e matemático português Pedro Julião, também conhecido por Pedro Hispano, é coroado papa, tomando o nome de João XXI.

             https://izambard.wordpress.com/2011/01/14/especial-gastronomia-bolo-de-leite-ninho-por-marta-mazota/

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

Língua

A base da (…) relação permanente entre os indivíduos é a língua, e é a língua com tudo quanto traz em si e consigo que define (…) a Nação.

Fernando Pessoa

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Na dança vou

Na dança
vou
do tempo em mudança,
buscando a esperança
daquilo que eu quero ser
e não sou

Meu corpo avança
no barco em que me vou
em busca daquilo que procuro
e não vou

Meu peito cansa
depois de muito que já andou
envolto na vaga esperança
daquilo que quero
e não sou

E
teimando vou
enquanto não alcanço
aquilo que busco
e não sou.

João Barroso da Fonte

terça-feira, 15 de setembro de 2015

Hercule Poirot

Durante a Primeira Guerra Mundial, refugiadas belgas foram recebidas pela família de Agatha Christie em Torquay. E foi na nacionalidade delas que a escritora se inspirou na hora de criar o seu detetive, Hercule Poirot.
De nacionalidade belga, embora muitos pensem que é francês, Poirot é extravagante, bem vestido e pouco modesto, “obrigando-se”, por vezes,  o seu amigo Hatings a explicar aos outros quem ele é. O seu apelido vem de poireau que, em francês, significa alho-porro ou verruga. Apareceu já no livro de estreia de Agatha Christie, "O misterioso caso de Styles", de 1921.
“Altura, um metro e sessenta e dois; a cabeça, do formato de um ovo, ligeiramente inclinada para um lado; olhos de um verde brilhante quando excitado; espesso bigode hirsuto como costumam usar os oficiais do Exército; e uma pose de grande dignidade”, assim a escritora descreve o seu mais célebre personagem.
Para Poirot, é possível resolver um crime estando “apenas sentado na sua poltrona”, pois, ao contrário dos outros detetives da Scotland Yard que buscam pistas no local do crime, Poirot utiliza como principal método a psique humana. Não é um detetive de ação, mas de dedução. Agatha Christie considerava-o um pouco chato, devido às suas excessivas obsessões pela ordem e pelo método.
Hercule Poirot não se casou, mas Agatha Christie fez questão de lhe conceder uma grande paixão, a condessa russa Vera Rossakoff, que o detetive conhece durante as investigações de um roubo de jóias. Entre outros, a condessa aparece no livro "Os quatro grandes", como cúmplice dos criminosos. 

Fields of Flowers Cupcakes

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Se eu pudesse trincar a terra toda

Se eu pudesse trincar a terra toda
E sentir-lhe um paladar,
Seria mais feliz um momento ...
Mas eu nem sempre quero ser feliz.
É preciso ser de vez em quando infeliz
Para se poder ser natural...
Nem tudo é dias de sol,
E a chuva, quando falta muito, pede-se.
Por isso tomo a infelicidade com a felicidade
Naturalmente, como quem não estranha
Que haja montanhas e planícies
E que haja rochedos e erva ...
O que é preciso é ser-se natural e calmo
Na felicidade ou na infelicidade,
Sentir como quem olha,
Pensar como quem anda,
E quando se vai morrer, lembrar-se de que o dia morre,
E que o poente é belo e é bela a noite que fica...
Assim é e assim seja ...

Alberto Caeiro, in O Guardador de Rebanhos - Poema XXI
Heterónimo de Fernando Pessoa 

domingo, 13 de setembro de 2015

Aquilino Ribeiro

A força plástica e musical do mundo aquiliniano é admirável.  A serra portuguesa, 
a aldeia patriarcal, o rebanho transumante vivem  nos seus livros, como  a  vida flamenga  e holandesa, nos quadros dos grandes pintores dos Países Baixos.
                                                                                                                                                   Vitorino Nemésio

Biscoito Caseiro Beijinho Freira - 100g.

domingo, 6 de setembro de 2015

Súplica

Agora que o silêncio é um mar sem ondas, 
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.

Perde-se a vida a desejá-la tanto. 
Só soubemos sofrer, enquanto 
O nosso amor 
Durou. 
Mas o tempo passou, 
Há calmaria... 
Não perturbes a paz que me foi dada. 
Ouvir de novo a tua voz seria 
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga

   Photo: Kate Grewal

sábado, 5 de setembro de 2015

A vida é assim


O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem.

Guimarães Rosa

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sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Desperdício

A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento, perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 2 de agosto de 2015

Vejam bem


Vejam bem 
que não há só gaivotas em terra 
quando um homem se põe a pensar 
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem 
dorme à noite ao relento na areia 
dorme à noite ao relento no mar 
dorme à noite ao relento no mar

E se houver 
uma praça de gente madura 
e uma estátua 
e uma estátua de febre a arder

Anda alguém 
pela noite de breu à procura 
e não há quem lhe queira valer 
e não há quem lhe queira valer

Vejam bem 
daquele homem a fraca figura 
desbravando os caminhos do pão 
desbravando os caminhos do pão

E se houver 
uma praça de gente madura 
ninguém vem levantá-lo do chão 
ninguém vem levantá-lo do chão

Vejam bem 
que não há só gaivotas em terra 
quando um homem 
quando um homem se põe a pensar

Quem lá vem 
dorme à noite ao relento na areia 
dorme à noite ao relento no mar 
dorme à noite ao relento no mar

Zeca Afonso


sexta-feira, 31 de julho de 2015

A Minha Mãe

As ilusões semelham-se a um colar
De pérolas alvíssimas, de espuma.
Se o fio que as segura se quebrar,
Caem no chão, dispersas, uma a uma.

Caem no chão, dispersas, uma a uma,
Se o fio que as segura se quebrar;
Mas entre tantas sempre fica alguma,
Sempre alguma suspensa há de ficar.

Das minhas ilusões, dos meus afetos,
Longo colar de amores prediletos,
Muitos rolaram já no pó também.

Um só dentre eles não cairá jamais:
Aquele que eu mais prezo entre os demais,
O teu amor santíssimo de mãe.

Augusto Gil, in Musa Cérula

quinta-feira, 30 de julho de 2015

Silêncio

O silêncio é a minha maior tentação. As palavras, esse vício ocidental, estão gastas, envelhecidas, envilecidas. Fatigam, exasperam. E mentem, separam, ferem. Também apaziguam, é certo, mas é tão raro! Por cada palavra que chega até nós, ainda quente das entranhas do ser, quanta baba nos escorre em cima a fingir de música suprema! A plenitude do silêncio só os orientais a conhecem.

Eugénio de Andrade

quarta-feira, 29 de julho de 2015

Livro de Mágoas

Este livro é de mágoas. Desgraçados
Que no mundo passais, chorai ao lê-lo!
Somente a vossa dor de Torturados
Pode, talvez, senti-lo... e compreendê-lo.

Este livro é para vós. Abençoados
Os que o sentirem, sem ser bom nem belo!
Bíblia de tristes... Ó Desventurados,
Que a vossa imensa dor se acalme ao vê-lo!

Livro de Mágoas... Dores... Ansiedades!
Livro de Sombras... Névoas e Saudades!
Vai pelo mundo... (Trouxe-o no meu seio...)

Irmãos na Dor, os olhos rasos de água,
Chorai comigo a minha imensa mágoa,
Lendo o meu livro só de mágoas cheio!...

Florbela Espanca