quinta-feira, 31 de julho de 2014

Cante Jondo

Mais do que um símbolo musical da multimilenária cultura andaluza, o "cante jondo" («canto fundo») exprime o que de mais profundo encerra o espírito popular.
Cúmplice das penas e das alegrias do seu povo, o cantaor esconjura com «voz de sangre», através das sentidas letras e dos longos e dolorosos melismas, como num ritual, as angústias que lhe assaltam a alma, crendo que quem o escuta comungará, por empatia, da sua dor e que esta será, assim, mitigada.
 O "cante" encarna a permanente demanda de uma obscura e inefável essência destilada pela antiguidade das suas raízes culturais. Muitos são os que creem ver nele, e nos contactos estabelecidos com o resto do mundo mediterrânico, o berço civilizacional de uma Andaluzia ávida por festejar a sacralidade da vida, ansiando, simultaneamente, por habitar o sombrio labirinto da morte.

Não obstante a miscigenação de povos que viriam posteriormente a ocupá-la (gregos, cartagineses, romanos, vândalos, muçulmanos, judeus e ciganos), a Andaluzia saberia edificar, a partir da integração de materiais heterogéneos, a sua própria identidade espiritual de que o" cante jondo" é um exemplo.
.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Maria de Lourdes Pintassilgo

Por iniciativa presidencial, é divulgada, a 30 de julho de 1979, a composição do V Governo Constitucional. A engenheira química Maria de Lourdes Pintassilgo entra na história como a única mulher que até hoje desempenhou o cargo de primeiro-ministro em Portugal, tendo estado em funções desde 1 de agosto de 1979 a 3 de janeiro de 1980. Foi, também, a segunda mulher a desempenhar este cargo em toda a Europa, dois meses depois da tomada de posse de Margaret Thatcher.

terça-feira, 29 de julho de 2014

Poesia

Quando o poder dirige o homem à arrogância, a poesia lembra-o das suas limitações. Quando o poder limita a área das preocupações do homem, a poesia lembra-o da riqueza e da diversidade da existência. Quando o poder corrompe, a poesia limpa.
John Kennedy

domingo, 27 de julho de 2014

"Meu Deus, meu Deus, levai o velho que já não presta para nada, levai-o, por quem sois!"

A 27 de Julho de 1970, morre, em Lisboa, o ditador António de Oliveira Salazar. Foi Ministro das Finanças entre 1928 e 1932 e dirigiu os destinos de Portugal, como Presidente do Conselho de Ministros, entre 1932 e 1968, altura em que, por ter caído de uma cadeira e haver ficado inutilizado para o desempenho de tarefas governativas, é substituído por Marcelo Caetano.

Curiosamente, no dia em que o povo tem conhecimento da sua morte, realiza-se o Exame Nacional de Português. O Texto a analisar é a cena IV do Acto III de Frei Luís de Sousa, de Almeida Garrett. Telmo, o fiel escudeiro de D. João de Portugal, quando este aparece vestido de Romeiro, diz: «Meu Deus, meu Deus, levai o velho que já não presta para nada, levai-o, por quem sois!» Claro está que o meio estudantil conotou ironicamente esta passagem textual com a morte de Salazar.


sábado, 26 de julho de 2014

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Chuva

As coisas vulgares que há na vida
Não deixam saudade
Só as lembranças que doem
Ou fazem sorrir

Há gente que fica na história
Da história da gente
E outras de quem nem o nome
Lembramos ouvir

São emoções que dão vida
À saudade que trago
Aquelas que tive contigo
E acabei por perder

Há dias que marcam a alma
E a vida da gente
E aquele em que tu me deixaste
Não posso esquecer

A chuva molhava – me o rosto
Gelado e cansado
As ruas que a cidade tinha
Já eu percorrera

Ai, meu choro de moça perdida
Gritava à cidade
Que o fogo do amor sob a chuva
Há instantes morrera

A chuva ouviu e calou
Meu segredo à cidade 
e eis que ela bate no vidro
Trazendo a saudade
Jorge Fernando

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Ato de Escrita

Corrigir. Corrigir muito: anoto, risco, reescrevo, volto a riscar; a reescrever, às vezes; a escrever, por fim. […] Esboço geralmente um plano de trabalho; e, geralmente não o cumpro. […] A Inspiração? Aqui para nós, trata-se de uma rapariga fascinante – mas caprichosa como o diabo. 
David Mourão-Ferreira

terça-feira, 22 de julho de 2014

segunda-feira, 21 de julho de 2014

O Trato

Era assim meu afeto 
e assim é que o conservo; 
maduro na lembrança 
e secreto e severo. 
Não o pus (minha boca 
altiva) em gesto ou voz; 
meu sol no entanto era 
muito mais sol. 
Não o soubeste, e agora 
se sabes, não te dói. 
Se sabes, não te move, 
dizes, e em ti não passou. 
Não importa; do trato 
não fui eu quem faltou. 
Meu caminho foi feito; 
ai de quem não amou. 
Renata Pallottini, in Noite Afora 


domingo, 20 de julho de 2014

A Guerra

 A guerra é um massacre entre pessoas que não se conhecem para proveito de pessoas que se conhecem mas não se massacram.
Paul Valéry


sábado, 19 de julho de 2014

sexta-feira, 18 de julho de 2014

A Ditadura

A 18 de julho de 1881, O Século escreve: «a ditadura é sempre um ataque às liberdades públicas, quer ela se apresente com semblante hipocritamente jovial, quer com aspeto carrancudo; a ditadura é sempre um golpe de estado, um salto formidável arriscado, em que se pretende ultrapassar a baliza que separa a lei do arbítrio [...]».

quinta-feira, 17 de julho de 2014

A divisão do mundo

A 17 de julho de 1945, tem início, em Potsdam, na Alemanha, a Conferência de Potsdam entre os participantes vitoriosos da II Guerra Mundial. Estiveram presentes, pela União Soviética, Josef Stálin, pelo Reino Unido, Clement Attlee e pelos E.U.A., Harry Truman para traçar as fronteiras do capitalismo e do comunismo. Era o começo da Guerra Fria.
Era a primeira vez que os líderes das potências aliadas se reuniam depois da derrota alemã, em 8 de maio de 1945. O lugar escolhido: o magnífico Castelo de Cecilienhof, construído em 1917, nos arredores de Berlim. Afinal, terminada a guerra na Europa, os Três Grandes deveriam esboçar o projeto da nova ordem mundial e decidir quais seriam as fronteiras do capitalismo e do comunismo no continente europeu.

A agenda da reunião era conhecida dos Aliados havia pelo menos dois anos. Os objetivos foram os mesmos que ocuparam os líderes dos três países nas conferências de Teerão (dezembro de 1943) e Ialta (fevereiro de 1945): as indemnizações alemãs aos países que enfrentaram Hitler, o controle político da Polónia, bem como a definição das suas fronteiras e a partilha da Alemanha. Mas em Potsdam circunstâncias diferentes deram um novo significado a velhas discussões. A Segunda Guerra Mundial era o fator que ligava a União Soviética, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha contra um inimigo comum. Com o fim da guerra na Europa, as divergências entre as grandes potências tornaram-se cada vez mais claras”. O nazismo passava para o segundo plano, e cada tema a ser discutido era apenas um pretexto para deter o avanço do capitalismo ou do comunismo. Como resultado, as novas fronteiras formalizadas em Potsdam abriram caminho para a Guerra Fria.


quarta-feira, 16 de julho de 2014

Obstáculos

Se considerarmos os obstáculos maiores do que são, sentiremos medo e não teremos coragem para ultrapassá-los.
Se considerarmos menores do que são, não nos prepararemos para superá-los.
Só conseguiremos vencê-los, se os olharmos verdadeiramente como são, e nos prepararmos para isso.
Aruê Amptah

domingo, 13 de julho de 2014

Carlos da Maia


É a personagem principal de "Os Maias", que muitos consideram um romance de personagem, centrado precisamente em Carlos da Maia. É filho de Pedro da Maia e Maria Monforte, mas nunca teve contacto com os pais, exceto quando era ainda muito criança.  Depois da fuga de Maria Monforte, e o suicídio do pai, ficou entregue ao cuidados do avô Afonso da Maia. Este dar-lhe-á a educação que não pôde dar ao filho Pedro - educado segundo cânones tradicionais portugueses, por insistência de uma mãe ultra-católica -, já na quinta do Douro, Santa Olávia, onde se refugiou com o neto, deixando ao abandono o Ramalhete. 
Educado à maneira inglesa, com normas rígidas, intensa atividade física, sem os tradicionalismos da "cartilha" católica (que atormentara o seu pai e o pobre Eusebiozinho, representantes da educação portuguesa), Carlos vai tornar-se num belo homem, física e intelectualmente. Carlos é um belo e magnífico rapaz. Alto, bem constituído, de ombros largos, olhos e cabelos negros, pele branca, barba fina, castanha escura, pequena e aguçada no queixo. O bigode arqueado aos cantos da boca. Como diz Eça, ele tem uma fisionomia de "belo cavaleiro da Renascença". 
Carlos é culto, bem educado, de gostos requintados. Ao contrário do seu pai, é corajoso e frontal. Amigo do seu amigo e generoso. Destaca-se na sua personalidade o cosmopolitismo, a sensualidade, o gosto pelo luxo, e diletantismo (incapacidade de se fixar num projeto sério). Forma-se em Medicina, em Coimbra, onde conhece João da Ega, o seu grande amigo.

Todavia, apesar da educação, Carlos fracassa. Não foi devido a esta mas falhou, em parte, por causa do meio onde se instalou – uma sociedade parasita, ociosa, fútil e sem estímulos e também devido a aspetos hereditários – a fraqueza e a cobardia do pai, o egoísmo, a futilidade e o espírito boémio da mãe. Eça quis personificar em Carlos a idade da sua juventude, a que fez a Questão Coimbrã e as Conferências do Casino e que acabou no grupo dos Vencidos da Vida, de que Carlos é um bom exemplo.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Estado Sou Eu

Absolutismo é um regime político em que apenas uma pessoa exerce poderes absolutos, amplos poderes, onde só ela manda, geralmente um rei ou uma rainha. Absolutismo foi um período entre os séculos XVI e XVIII  e começou na Europa.
Através do absolutismo, os monarcas tinham o poder para criar leis sem aprovação da sociedade e de criar impostos e tributos que financiassem os seus projetos ou guerras. Muitas vezes, um Rei absoluto envolvia-se em temas religiosos, chegando muitas vezes a controlar o clero.
Muitas vezes o absolutismo é confundido com uma doutrina conhecida como "Direito Divino dos Reis", que o poder e a autoridade dos reis vinham diretamente de Deus. De igual forma, de acordo com essa doutrina, um rei só poderia ser destituído por Deus. Existe também um diferenciação entre absolutismo e despotismo, sendo que este último é quase como uma corrupção do absolutismo, onde o rei age sem nenhuma preocupação. 
O absolutismo começou no final do período medieval e o início da modernidade. Apareceu no momento de transição entre essas épocas, que também foi chamada de monarquia absolutista. Muitos filósofos desta época desenvolveram teorias sobre o regime, como Maquiavel, em “O Príncipe”, Thomas Hobbes em "O Leviatã” etc.
O absolutismo era um grande benefício para a classe burguesa que apoiava o Rei no poder. Desta forma, os comerciantes patrocinavam os projetos do Rei e como recompensa eram beneficiados nos negócios do Estado.
Diversos países da Europa passaram pelo regime absolutista. A França foi governada pelo Rei Luís XIV, o mais célebre absolutista francês, conhecido como "Rei Sol", que ficou famoso pela sua célebre frase "O Estado sou eu", o Rei Henrique VIII, na Inglaterra, assim como a Rainha Elizabeth. Em Portugal, o poder conferido ao reis não era absoluto, por ser dividido com as cortes e outras entidades soberanas. No entanto, o poder conferido aos reis foi aumentando com o passar do tempo, o que se verificou no reinado do Rei João V. Na Espanha, o rei Fernando de Aragão casou com a Rainha Isabel de Castela, havendo então a unificação do reino espanhol. Esta unificação deu origem ao período de absolutismo na Espanha.

Com o surgimento do Iluminismo e com os ideais defendidos pela Revolução Francesa, o absolutismo chegou ao seu fim, foi substituído em muitos países pela República, ficando conhecido como "Antigo Regime". No entanto, antes da sua queda, e tendo em conta as muitas críticas que lhe eram apontadas, o absolutismo tentou uma espécie de reforma através do despotismo esclarecido.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Os livros sabem de cor

Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.
Paulo Leminski


terça-feira, 8 de julho de 2014

Quanto mais fecho os olhos

Quanto mais fecho os olhos,
melhor vejo...
Meu dia é noite quando estás ausente...
E à noite eu vejo o sol
se estás presente...
Shakespeare

sábado, 5 de julho de 2014

Para Ti


Foi para ti
que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo

Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre

Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só
amando de uma só vida 
Mia Couto

sexta-feira, 4 de julho de 2014

A Ferreirinha

A 4 de julho de 1772, nasce em Peso da Régua, Antónia Adelaide Ferreira. A sua família possuía muito dinheiro e vinhas. O pai, José Bernardo Ferreira, casou-a com um primo, mas este não se interessou pelas plantações da família e dilapidou grande parte da fortuna. Após a morte do seu marido, ocorrida em 1844, passa, apenas com 33 anos de idade, a dirigir o negócio da família. A Ferreirinha, como era carinhosamente conhecida, demonstrou ter sempre grande preocupação com o bem-estar das famílias dos trabalhadores e com o desenvolvimento das suas terras e adegas. Apoiada pelo administrador José da Silva Torres, que seria, mais tarde, o seu segundo marido, Antónia Adelaide Ferreira lutou contra a falta de apoios dos sucessivos governos, mais empenhados em construir estradas e adquirir vinhos espanhóis. Lutou contra a doença da vinha, a filoxera, e viajou até Inglaterra para obter esclarecimento sobre os meios mais modernos e eficazes de combatera esta devastadora praga, bem como obter métodos mais aprimorados de produção do vinho. A Ferreirinha investiu em novas plantações de vinhas em zonas mais expostas à radiação solar, sem abandonar também as plantações de oliveiras, amendoeiras e cereais. Percorria e vigiava de perto a Quinta do Vesúvio, uma das suas muitas propriedades. Em 1849, a produção vinícola era já de 700 pipas de vinho. Graças a bons acordos, grande parte dos vinhos passou a ser exportada para o Reino Unido, ainda hoje o primeiro importador de Vinho do Porto. Quando faleceu, em 1896, deixou uma fortuna considerável e perto de trinta quintas. Deu um valioso contributo para que o vinho do Porto fosse apreciado em todo o mundo.