quinta-feira, 31 de julho de 2014

Cante Jondo

Mais do que um símbolo musical da multimilenária cultura andaluza, o "cante jondo" («canto fundo») exprime o que de mais profundo encerra o espírito popular.
Cúmplice das penas e das alegrias do seu povo, o cantaor esconjura com «voz de sangre», através das sentidas letras e dos longos e dolorosos melismas, como num ritual, as angústias que lhe assaltam a alma, crendo que quem o escuta comungará, por empatia, da sua dor e que esta será, assim, mitigada.
 O "cante" encarna a permanente demanda de uma obscura e inefável essência destilada pela antiguidade das suas raízes culturais. Muitos são os que creem ver nele, e nos contactos estabelecidos com o resto do mundo mediterrânico, o berço civilizacional de uma Andaluzia ávida por festejar a sacralidade da vida, ansiando, simultaneamente, por habitar o sombrio labirinto da morte.

Não obstante a miscigenação de povos que viriam posteriormente a ocupá-la (gregos, cartagineses, romanos, vândalos, muçulmanos, judeus e ciganos), a Andaluzia saberia edificar, a partir da integração de materiais heterogéneos, a sua própria identidade espiritual de que o" cante jondo" é um exemplo.
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