Mais
do que um símbolo musical da multimilenária cultura andaluza, o "cante
jondo" («canto
fundo») exprime o que de mais profundo encerra o espírito popular.
Cúmplice
das penas e das alegrias do seu povo, o cantaor esconjura
com «voz de sangre», através das sentidas letras e dos longos e
dolorosos melismas, como num ritual, as angústias que lhe assaltam a
alma, crendo que quem o escuta comungará, por empatia, da sua dor e
que esta será, assim, mitigada.
O "cante" encarna
a permanente demanda de uma obscura e inefável essência destilada
pela antiguidade das suas raízes culturais.
Muitos
são os que creem ver nele, e nos contactos estabelecidos com o
resto do mundo mediterrânico, o berço civilizacional de uma
Andaluzia ávida por festejar a sacralidade da vida, ansiando,
simultaneamente, por habitar o sombrio labirinto da morte.
Não
obstante a miscigenação de povos que viriam posteriormente a
ocupá-la (gregos, cartagineses, romanos, vândalos, muçulmanos,
judeus e ciganos), a Andaluzia saberia edificar, a partir da
integração de materiais heterogéneos, a sua própria identidade
espiritual de que o" cante
jondo" é
um exemplo.
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