Não há revolta no homem
que se
revolta calçado.
O que nele se revolta
é apenas
um bocado
que dentro fica agarrado
à tábua da
teoria.
Aquilo que nele mente
e parte em
filosofia
é porventura a semente
do fruto que nele
nasce
e a sede não lhe alivia.
Revolta é
ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos
há-de matar.
Rebeldia é o que põe
na nossa
mão um punhal
para vibrar naquela morte
que nos
mata devagar.
E só depois de informado
só
depois de esclarecido
rebelde nu e deitado
ironia
de saber
o que só então se sabe
e não se pode
contar.
Natália Correia, in Poemas (1955)
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