Esses
teus olhos enxutos
Num fundo cavo de olheiras
Esses lábios
resolutos
Boca de falas inteiras
Essa fronte aonde os
brutos
Vararam balas certeiras
Contam certa a tua vida
Vida
de lida e de luta
De fome tão sem medida
Que os campos todos
enluta
Ceifou-te
ceifeira a morte
Antes da própria sazão
Quando o teu altivo
porte
Fazia sombra ao patrão
Sua lei ditou-te a sorte
Negra
bala foi teu pão
E o pão por nós semeado
Com nosso suor
colhido
Pelo pobre é amassado
Pelo rico só repartido
Tanta
seara continhas
Visível já nas entranhas
Em teu ventre a vida
tinhas
Na morte certeza tenhas
Malditas ervas daninhas
Hão-de
ter mondas tamanhas
Searas de grã estatura
De raiva surda e
vingança
Crescerão da tua esperança
Ceifada sem ser madura
Teus
destinos Catarina
Não findaram sem renovo
Tiveram morte
assassina
Hão-de ter vida de novo
Na semente que germina
Dos
destinos do teu povo
E na noite negra negra
Do teu cabelo
revolto
nasce a Manhã do teu rosto
No futuro de olhos posto
Carlos Aboim Inglez
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