se
chover na madrugada em que eu procuro o meu caminho
será
vaga a nostalgia que outro charco faz viver
a
canção lânguida e lenta de quem vai devagarinho
em
cada charco uma mágoa que não se pode esquecer
tenho
ideias que não tenho, sentimentos que não sinto
sou
imagem de outra imagem que se fez não sei de quê
procuro
a minha rota, descobrindo que não minto
e
o que minto atiro fora para nascer outra vez
não
sou forte nem sou pedra nem sou muro levantado
nem
sou obra que se erga pouco a pouco, tempo afora
antes
sou como uma ideia que se despe do passado
uma
planta enraizada na sina da sua hora
se
chover na madrugada em que eu procuro o meu caminho
e
eu cair em cada charco mas seguir por onde vou
deixarei
de olhar no rio de todos mas tão baixinho
porque
é mais profundo o charco onde o que beijo é o que sou
Mafalda Veiga
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