Uma
parte de mim
é todo mundo;
outra parte é ninguém:
fundo
sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte
estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa,
pondera;
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça
e janta;
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é
permanente;
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de
mim
é só vertigem;
outra parte,
linguagem.
Traduzir-se
uma parte
na outra parte
— que é uma questão
de vida ou
morte —
será arte?
Ferreira Gullar