domingo, 18 de janeiro de 2015

Vanina e Guidobaldo

Esta história de amor aparece contada por Sophia de Mello Breyner Andresen na obra "O Cavaleiro da Dinamarca" e é uma história encaixada na história da viagem do Cavaleiro. Este chega a Veneza e um mercador conta-lhe a história de Vanina e Guidobaldo.
Vanina era órfã de pai e mãe e Orso era o seu tutor. Quando ela era criança, o tutor prometeu-a em casamento a um seu parente chamado Arrigo. Quando ela atingiu os 18 anos, não quis casar com ele, porque achava que era muito velho, feio, maçador e tonto. Orso, seu tutor, fechava-a em casa, apenas a deixava sair para ir à missa em sua companhia. Durante os dias da semana, Vanina prisioneira suspirava e bordava, mas sempre espiada pelas aias. Durante a noite, Vanina abria a janela do seu quarto, debruçava-se na varanda e penteava os seus cabelos que eram loiros, leves, brilhantes e tão perfumados que até de longe se sentia, na brisa, o seu aroma. Os jovens rapazes de Veneza vinham, de noite, ver Vanina a pentear-se. Mas nenhum podia aproximar-se dela, pois o seu tutor mandaria apanhá-los. Vanina, jovem e bela e sem amor, suspirava naquele palácio. Um dia, chegou a Veneza um homem que não tinha medo de Jacob Orso. Chamava-se Guidobaldo e era capitão dum navio. O seu cabelo preto era azulado, e a sua pele estava queimada pelo sol e pelo sal.
Certa noite, Guidobaldo passou na sua gôndola e sentiu no ar um maravilhoso perfume, levantou a cabeça e viu Vanina a pentear os cabelos. Aproximou o seu barco da varanda e disse a Vanina que para cabelos tão belos e tão perfumados era preciso um pente de oiro. Vanina sorriu e atirou-lhe o seu pente que era de marfim. Na noite seguinte, o jovem capitão tornou a deslizar de gôndola. E Vanina disse que naquele dia não podia pentear-se porque não tinha o seu pente de marfim. O capitão deu-lhe um presente que era um pente de oiro para ela se pentear. E, desde esse dia, a rapariga mais bela de Veneza passou a ter namorado. Quando os amigos do capitão souberam da notícia, foram logo preveni-lo, estava arriscar a sua vida, pois Orso não lhe perdoaria. Guidobaldo, como não teve medo, sacudiu os ombros e riu-se. E, ao fim de um mês, foi bater à porta do tutor e pediu a mão de Vanina, mas Orso disse que Vanina estava noiva de Arrigo e deu o prazo de um dia para sair de Veneza, pois se não saísse, mandaria sete homens com sete punhais atrás de Guidobaldo para o matarem. Guidobaldo fez uma reverência e saiu. Nessa noite, no silêncio da noite, a sua gôndola parou junto da casa de Orso e Vanina desceu na escada e entrou na gôndola do seu amado. Guidobaldo cobriu-a com a sua capa escura e afastaram-se, na calada da noite. Na manhã seguinte, as aias aperceberam-se da falta de Vanina e correram a dizer ao tutor. Então Jacob Orso chamou Arrigo e com ele os seus esbirros dirigiram-se para o cais. Quando chegaram, o navio de Guidobaldo já tinha desaparecido. Jacob Orso pediu a um velho marinheiro seu conhecido para contar tudo o que sabia. O homem disse a Orso que o capitão e Vanina chegaram ao cais a meio da noite, chamaram um padre para os casar numa capela, a dos marinheiros. Mal terminou o casamento embarcaram e, ao primeiro nascer do dia, o navio levantou a âncora, içou as velas e navegou para o largo. Orso olhou para a distância e o navio já não se avistava, pois a brisa soprava da terra. As águas estavam verdes, claras, ligeiramente ondulantes e cobertas de manchas cor de prata. Tutor e Arrigo queixaram-se à senhoria de Veneza e ao doge. Depois mandaram quatro navios à procura dos fugitivos, partiu um navio para cada direção. Como o mar é grande e há muitos portos, muitas baías, muitas cidades marítimas e muitas ilhas, desde esse dia nunca mais ninguém os encontrou.

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