Tambor está velho de gritar
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
corpo e alma só tambor
só
tambor gritando na noite quente dos trópicos.
Nem flor
nascida no mato do desespero
Nem rio correndo para o mar do
desespero
Nem zagaia temperada no lume vivo do desespero
Nem
mesmo poesia forjada na dor rubra do desespero.
Nem nada!
Só
tambor velho de gritar na lua cheia da minha terra
Só tambor de
pele curtida ao sol da minha terra
Só tambor cavado nos troncos
duros da minha terra.
Eu
Só tambor rebentando o silêncio
amargo da Mafalala
Só tambor velho de sentar no batuque da minha
terra
Só tambor perdido na escuridão da noite perdida.
Oh
velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem
flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só
tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor
noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da
grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser
tambor
só tambor!
José Craveirinha